sábado, 30 de julho de 2011

Pobre Paulista

Para ouvir, lendo o post abaixo. O Ira! na primeira gravação de Pobre Paulista.


O Menino da Rua Paulo

Felizes os garotos de hoje que tem Ipad, Mp3, download e outros recursos para poder ouvir a música que quiser. Na minha adolescência não havia essa moleza, era preciso peregrinar, garimpar e vasculhar os sebos para conseguir uma fita k-7 com alguma gravação rara, de algum show de sua banda favorita era motivo de muito orgulho e servia de troféu ou medalha.
Capa do Vinil Psicoacústica de 1988 
Os discos em vinil eram o grande barato. Comprar um álbum duplo de sua banda favorita com seu salário de office-boy era uma sensação indescritível que o garotão que hoje 'baixa' músicas no Napster (não tem mais o Napster?) nunca vai entender. Chegar em casa, tirar a primeira capa de plástico, abrir o álbum, ler o encarte, tirar o a película de celofane que o protegia colocar no 3 em 1 da CCE ouvir primeiro os chiadinhos da agulhe e finalmente os primeiros acordes... Era um ritual.
Dentre as muitas opções que surgiam naqueles anos 1980 a que eu mais me identificava era a banda paulistana IRA! Suas músicas falavam de rebeldia, de transformação, de 15 anos, de mudança de comportamento, de serviço militar, da cidade que eu nasci. Era como se cada disco do IRA! fora feito para mim, que cada música compunha a trilha sonora da minha vida.


O Ira! cresceu, saiu de São Paulo, fez um enorme sucesso, sua música virou tema de novela. Minha turma de 15 anos não gostou, ficou com raiva.  Não queria dividir com o Brasil aquilo que era só nosso.
Até que um dia algo deu errado. O Ira! teria que se apresentar no especial de Natal do Cassino do Chacrinha, além de tocar em play back eram obrigados a tocar usando um gorro de Papai Noel. Não aceitaram, foram embora, não se apresentaram e . . . sumiram.
Não foram mais aceitos na Globo, não iriam mais ao Globo de Ouro nem em trilhas de novelas e viram seus amigos de Ultraje a Rigor, Titãs e Legião Urbana ganharem um espaço na mídia que fora deles.
Assim foi até que sumiram, viraram uma banda de São Paulo, tocavam em bares, no circuito do SESC e em um monte de quebrada. Vi shows deles no Parque do Carmo e em outros locais menos nobres sempre vazios, longe do respeito que os caras mereciam.


Mesmo fora do circuito comercial, o Ira nunca deixou de produzir. Principalmente na figura de seu virtuoso guitar player e compositor Edgar Scandurra,  eles estavam prontos, com um vasto acervo quando os anos 2000 pediram um revival dos anos 80.
Gravaram um maravilhoso disco acústico para a MTV. Voltaram as grandes casas de show, venderam muito e devem ter ganho muito também. Brigaram, voltaram, brigaram de novo e acabaram. Acabar é um melhor fim muito mais nobre a uma grande banda. Melhor que tentar novas formações. Os 4 componentes seguem suas vidas em projetos pessoais.
Esta semana, fui pagar ao banco na Domingos de Moraes pagar uma conta atrasada (perto da Rua Paulo na Vila Mariana, a rua foi título de um disco deles em 1991), na minha frente estava o Edgar pagando contas, atarefado, provavelmente preocupado. Pensei em pedir um autógrafo, em dizer o quanto suas músicas eram importantes em minha vida, que fui em shows do Ira nos lugares mais inóspitos mas não tive coragem, achei melhor deixar o momento como estava. Ver meu ídolo de adolescência pagando contas como eu. Assim como quando eu tinha 15 anos, assim como quando eu me alistei no serviço militar, assim como quando eu fui pai. Obrigado ao Edgar, Gaspa, André e Nasi. Obrigado Ira! por me fazer entender a ordem natural das coisas.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Conjunto Habitacional Autódromo de Interlagos

A então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina ao lado de Ayrton Senna que ajudou a salvar Interlagos.
acervo particular da Deputada pelo PSB de SP

Na mesma matéria de Veja de agosto de 1988, que conta sobre a gleba dos Abdalla aponta para outros espaços vazios ou mal utilizados da cidade que poderiam ser utilizados pelo mercado imobiliário ou reutilizados pelo Estado como aconteceu com o Parque Villa Lobos.

VEJA São Paulo, abril de 1988.

Entre todos, me chamou a atenção o autódromo de Interlagos. O local que hoje abriga a Fórmula 1; o evento mais rentável da cidade e que segundo a Prefeitura; era uma imensa área pouco aproveitada em 1988 quando Veja escreveu a matéria, Luiza Erundina era candidata a prefeita e a etapa brasileira de F1 era disputada no Rio de Janeiro. 


"No comecinho do governo, em 1989 fui visitar Interlagos. Fiquei espantada por ver aquela área enorme sendo utilizada só para corridas de kart. No entorno havia todo um cinturão de favelas, pobreza e miséria. Havia um grupo de funcionários que fazia a manutenção e aquilo custava caro para a cidade." declarou Luiza Erundina a Revista Warm Up de maio de 2010.

Segundo a ex-prefeita, a vontade do PT, seu partido à época era de "transformar aquela área em um imenso conjunto habitacional, vi ali milhares de casas. Mas isso não resolveria o problema habitacional da cidade e ainda poderíamos perder receita para São Paulo. Intuí isso."

A Federação Internacional de Automobilismo pretendia tirar o Grand Prêmio Brasil devido a falta de segurança (um piloto havia sofrido grave acidente no Rio em 1989) e instabilidade econômica. Comprando briga com seu partido, buscando apoio em adversários políticos como o então Presidente Collor a prefeita propõe um audacioso projeto: que Interlagos volte a receber o Grand Prêmio Brasil de Fórmula 1. 

Os muitos projetos que não foram aceitos, a mudança de traçado, o curto tempo e a participação decisiva de Ayrton Senna são contados com detalhes na ótima revista digital Warm Up especializada em automobilismo, disponível no link abaixo.

http://www.revistawarmup.com.br/edicoes/02/
Ontem, dia 28 o Metrô de SP anunciou que a estação Jardim São Paulo passará a chamar Ayrton Senna, mais uma justa homenagem ao piloto, sendo cidadão do mundo, sempre morou e a seu modo lutou pela cidade de São Paulo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Parque Villa-Lobos

Com um pouco de sorte, tempo disponível e pouquíssimo dinheiro é possível garimpar assuntos muito interessantes em revistas antigas. Em minhas visitas pelo Sebo do Messias tenho encontrado coisas bem legais. Em uma Vejinha de abril de 1987 me chamou a atenção a matéria de capa “A Cidade Ocupa o Vazio” 

Veja São Paulo - abril de 1988
Com ênfase no emergente Alto de Pinheiros, a matéria A Face Vertical do Alto de Pinheiros cita grandes áreas vazias na cidade e pesquisa destinos que estão sendo propostos as mesmas. O grande destaque é “uma das mais gigantescas disputas imobiliárias já ocorridas em São Paulo”.  
Os proprietários do terreno, a família Abdalla* planejam construir no “terreno vazio de quase 1 milhão de metros quadrados, situado na Marginal do do Rio Pinheiros entre as pontes do Jaguaré e da Cidade Universitária (...) um complexo, assinado por Ruy Ohtake para a construção de um shopping Center, um hipermercado e oitenta prédios – isso mesmo, oitenta prédios” cita a revista.
Foto que ilustra a matéria de Veja SP - a esquerda o projeto dos Abdalla do outro o do governo de SP

*Sobre a família Abdalla é correto dizer que eram muito ricos e influentes para sermos modestos. O patriarca J.J.Abdalla foi dono de um império que contava com fabrica de cimentos, várias empresas têxteis além do Banco Comind, um dos maiores do Brasil em 1988.  

Do outro lado da disputa está o Governo de São Paulo onde o secretário de Obras, João Leiva, que seria candidato a prefeito de São Paulo sugere um projeto "para que desaproprie o terreno de Abdalla e crie no local um portentoso parque para a cidade." ao então governador Orestes Quércia já possuía inclusive uma maquete de um teatro estadual destinado para o local. 
Foto que ilustra a matéria de Veja SP - Em destaque a área em litigio.

Segundo a revista a decisão sobre o destino da área estava prestes a sair. "dentro de pouco tempo, portanto, a cidade vai saber se ganhou um novo parque ou um novo bairro". Segundo o texto, na negociação entre Abdalla e a Prefeitura o empresário teria o direito de construir seus prédios desde que 'erguesse 1.200 casas populares na periferia da cidade. Confiante Abdalla já mandou terraplenar sua gleba e tem o projeto pronto: - Não é justo que se pense em fazer parques à custa da iniciativa privada, reclama ele'. 

Os Desdobramentos

É preciso muita sorte para encontrar uma revista com a continuação deste embate, mas não é difícil perceber que ao menos desta vez quem ganhou foi o paulistano. A área citado é hoje o Parque Villa Lobos que começou a ser implantado em 1989 e foi inaugurado em 1994 segundo os Decretos Estaduais 28.335 e 28.336/88 destinavam os 732 mil m² à implantação de um “parque de lazer, cultura e esporte". 

Vista aérea do Parque Villa Lobos, segundo o Google.
Certamente a família Abdalla foi indenizada pelo terreno. Certamente não pelo valor que queriam. Certamente pago pelo dinheiro público. É possivel até que tenham ficado com parte do terreno onde hoje fica o Shopping Villa Lobos. A cidade ganhou um imenso pulmão onde antes fora o lixão do Ceagesp e o mercado imobiliário da região floresceu nos terrenos adjacentes, graças a proximidade do Parque. 
Gosto de saber que a política pública, optou por ficar ao lado dos munícipes. A matéria de Veja segue e merece pelo menos mais uma postagem, sem fazer juízo de valores, fecho esta aqui com algumas curiosidades a respeito dos envolvidos:

João Leiva: Secretário de Obras, foi quem orientou Quércia a criar o Parque. Era o primeiro colocado nas pesquisas para a prefeitura de São Paulo. Perdeu para a terceira colocada Luiza Erundina que tinha em sua plataforma a construção de habitações populares.

Teatro Estadual: Previsto para um bico do terreno, que não pertencia a família Abdalla nunca foi construído. No site do Parque, a área está descrita 'área utilizada como canteiro de obras'. 

Orestes Quércia: Até chegar a governador, Orestes Quércia nunca havia perdido uma eleição. Foi vereador, deputado, senador, vice-governador, governador, elegeu sucessores e nunca mais ganhou uma eleição. Morreu em dezembro de 2010.

José João Abdalla: Dono de um império, foi empresário, banqueiro, construtor, político. A disputa com o estado pela grande gleba no Alto de Pinheiros foi uma das últimas em que se envolveu. Morreu em outubro daquele ano, meses depois da desapropriação.


sábado, 23 de julho de 2011

O que eu fiz nas férias?(2) Museu da Língua Portuguesa


Seguindo nossa saga de férias pelos pontos turístico de São Paulo fomos durante a semana ao Museu da Língua Portuguesa. Usando o Museu como desculpa, fui apresentar ao meu filho a Estação da Luz, local tão importante para a cidade quanto para a nossa família.

Foi neste prédio que a família Levati chegou a capital paulista nos anos 1960 depois da bancarrota da monocultura do café no interior do Estado. Foi aí também que anos depois meu pai trabalhou como ferroviário da antiga R.F.F.S.A. (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima) e foi ai que eu garotinho, indo aos sábados  acompanhar meu o pai no escritório,  passei a gostar de trens, de estações e da cidade de São Paulo.

Meu interesse pelo local é antigo, e é com prazer que transcrevo um texto meu de 2004, ano em que era concluída a reforma integral da fachada da estação: "... a próxima etapa do programa de restauro é a implantação do projeto Estação da Luz da Nossa Língua. Como parte do projeto a obra inclui a instalação de um centro de referência da língua portuguesa. O objetivo é criar um espaço em que a história e os vários usos da língua, tais como, a literatura, o teatro, a música, o cinema e a televisão estejam presentes." Eu não lembrava disso, nem onde li para escrever o grifo acima, mas como é satisfatório ler que o projeto foi levado a frente e concluído. O que mudou no entanto foi apenas o nome.

Museu da Língua Portuguesa.

Em uma época em que o monossilabo, o grunhido e os 140 caracteres ditam a linguagem, considero um privilégio que o Português, o nosso idioma, tão rico, tão cheio de nuances tenha sido classificado pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Imaterial porque não pode ser tocado, mas é uma língua viva e deve ser preservada.

Neste sentido, ocupando toda a antiga área operacional da Estação Luz, surgiu o Museu da Língua Portuguesa dedicado à valorização e difusão do nosso idioma utilizando para isso recursos tecnológicos para apresentação do conteúdo. Mesmo com toda esse meu interesse, nunca tinha ido até lá.

Sempre passando lá por baixo, de trem ou metrô ficava incomodado com minha procrastinação, até que esta semana, acompanhado pelo agora veterano Denis Jr visitei o local.
A sensação é a mesma que tive no Catavento: Por que não estive aqui antes? O local é muito bem estruturado em seus três pisos. Utiliza muito bem os recursos áudio-visuais. Gostei muito do clima estudantil do local, muito visitado em plena quinta-feira cheio de excursões e de turistas. Porém o local não é a melhor opção para crianças, muitos momentos de reflexão e silêncio contrastam com a hiperatividade comum dos pequenos. Pelo menos do meu.
Precisarei escrever mais sobre a Estação da Luz. Precisarei voltar ao local e sozinho. Em algum momento, lá no terceiro andar encontrei a janela do antigo escritório do meu pai. Os mesmos desenhos em forma de rama de café, a mesma visão do Parque da Luz ali em frente. O passeio acabou e fomos embora, duas crianças de mãos dadas pelos corredores da Luz...



http://www.museulinguaportuguesa.org.br

ingressos a R$ 6,00 - crianças de até 10 anos não pagam 

Será que vai vender (8) Galeria Metrópole

Estado de São Paulo, junho de 1960

O anúncio chama de A maior concentração de lojas da América Latina o prédio comercial, localizado na Avenida São Luis esquina com a Praça Dom José Gaspar.  
A Avenida São Luis e o centro comercial, onde funcionou por muitos anos o Cine Metrópole, era um ponto de luxo nos anos 1970, com bares tomados por universitários. O anúncio de lançamento mostra carros sofisticados e um público elegante nas varandas do prédio. Ainda era apenas um projeto para ser entregue em 28 meses, mas as obras estavam em andamento ‘24 horas por dia’. O texto destacava os 1.200 metros de vitrines, 14 escadas rolantes ‘para subir e para descer’, boate, ‘bar americano e grill room’ e cinema para 1.200 pessoas. Além disso, 80 conjuntos para escritórios servidos por cinco elevadores, 20 mil metros quadrados de lojas e 100 metros de frente para três ruas. 
Hoje, é ainda hoje um local tranquilo que abriga agências de turismo, lojas e ótimos restaurantes, acredite, os melhores do Centro de São Paulo. 

Galeria Metrópole, em imagem do Google Street View

domingo, 17 de julho de 2011

O que eu fiz nas férias?(1) Espaço Catavento

Palácio das Indústria em cartão postal do anos 1920
É muito comum entre paulistanos não conhecer pontos turísticos da cidade. Eu por exemplo só entrei na Catedral da Sé porque estava passando em frente com meu amigo Tug que vinha de Dourados-MS e queria conhecer a igreja. O Pátio do Colégio e o Museu do Ipiranga eu conheci nas mesmas circunstâncias, já beirando os 30 anos. O Palácio das Indústrias, na região do Parque Dom Pedro II, eu passei 15 anos da minha vida sem nem saber que existia. Em 1991 a então prefeita da Luiza Erundina anunciava que a sede da prefeitura mudaria para este edifício. Só então me toquei daquela construção largada e escura ao lado do rio Tamanduateí e do Mercado Municipal. Parece que uma das intenções era a de dar vida a uma região degradada da cidade.

LABOREMVS VNIS PRO-PATRIA

O edifício foi construído durante 13 anos, entre 1911 e 1924, quando São Paulo tinha apenas cerca de 100 mil habitantes, e representou um considerável esforço da cidade. Foi idealizado como Palácio das Indústrias, nome que na época incluía também a agricultura e a pecuária, como local de exposições, pois São Paulo já despontava como centro de produção, aproveitando a enorme área disponível com a retificação do Tamanduateí, foi construído pelo disputado escritório Ramos de Azevedo responsável por outros prédios históricos.
Palácio das Indústrias, em São Paulo, em julho de 2011.


O bonito prédio, utiliza tijolo aparente como principal acabamento e tem inúmeros elementos decorativos, uns ligados à produção, como touros, e outros não, como cachorros, e seteiras em vários cumes de muradas. Inscrições em latim como o Trabalhemos Unidos pela Pátria remetem ao período positivista da Primeira República. 
Foi Palácio de Exposições, passou a outros usos, como delegacia de polícia, prisão, Assembléia Legislativa e sede da Prefeitura de São Paulo de 1992 a 2004 até que outra prefeita, Marta Suplicy mudou a prefeitura para outro prédio incrível no Vale do Anhangabaú.


ESPAÇO CATAVENTO


Com a mudança da prefeitura, o Palácio das Indústrias ficou novamente sem função até que em 2009, não sei bem se o Governo do Estado ou se a Prefeitura, ou se os dois deram  ao local um fim nobre e apropriado. Criou ali o Espaço Catavento, um museu totalmente interativo onde o visitante além de conhecer um pouco da história da cidade de São Paulo através do edifício sede, tem a oportunidade de aprender ciência brincando.


O local é incrível. Ao entrar no local a primeira sensação é: Por que não estive aqui antes? Dividido em 4 áreas distintas Universo, Vida, Engenho e Sociedade o Catavento é um convite a curiosidade das crianças e totalmente interativo. A riqueza e o esmero dos detalhes impressionam. A cada sala nova, a cada esquina do local uma grata surpresa.
Jogos Interativos permitem as crianças conhecer, entre muitas atividades,
o canto das aves brasileiras.

Geologia, Física, Biologia, Química, Mecânica e as Ciências Humanas apresentadas de uma maneira muito divertida e barata. Dois ingressos adultos e uma meia entrada me custaram R$ 15,00. Menos que um lanche no McDonald's, metade de 1 ingresso no cinema 3D do Cinemark, menos do que pagamos comumente no Playland.

Denis Jr dentro da bolha de sabão.
Roupas leves, biscoitos e sucos na mochila ajudam a passar uma tarde bastante agradável no local. É possível ir de metrô partindo da estação Pedro II. O estacionamento é enorme. Algumas atrações encontram-se em manutenção ou desgastadas e a localização realmente não é das melhores, mas o passeio vale muito a pena. 
No entorno do museu, na área de exposições, trens a vapor, ônibus, carroças e até um avião completam o rico acervo. Quando estiver em São Paulo não deixe de conhecer, se você já mora na capital paulista, troque um dia o passeio no shopping por uma visita ao Catavento. Eu e minha família gostamos muito.  O endereço eletrônico é http://www.cataventocultural.org.br

O que eu fiz nas férias?

Durante a minha fase de escola fundamental (fala-se primeiro grau) invariavelmente no período seguinte as férias de janeiro ou de julho começavam com uma redação: O que eu fiz nas minhas férias?
As redações eram quase sempre iguais, com visitas ao Playcenter no inverno e a um sítio de parentes no interior de São Paulo no verão.
Meu filho está em suas primeiras férias escolares. Não que ele já faça redações, mas quero que ele tenha férias bem felizes. Decidi tirar férias com ele e levá-lo para conhecer uma cidade apaixonante. Uma cidade que só fui conhecer quando me tornei office-boy lá pelos 15 anos de idade. Uma cidade cheia de ótimos passeios, de museus interativos, vida cultural, construções históricas, lazer e diversão.
Eu, Denis Jr e as vezes (porque ela não teve férias) Mamãe Levati estamos conhecendo, descobrindo ou redescobrindo São Paulo e a experiência tem sido encantadora. As melhores experiências vão aparecer no blog aos poucos.

Por toda a minha vida

"São Paulo muda muito, e ninguém é capaz de dizer aonde irá (...) Esta cidade que está acabando, que já acabou com a garoa, os bondes, o trem da Cantareira, o Triângulo, as Cantinas do Bexiga, Adoniran não a deixará acabar, porque graças a ele ela ficará, misturada vivamente com a nova mas, como o quarto do poeta, também "intacta, boiando no ar."


O texto acima, extraído da contra-capa de um LP de Adoniran dos anos 1970 é de autoria de Antonio Cândido, um dos maiores intelectuais brasileiros que corrobora com tudo o que falamos aqui sobre o sambista.


Em 2010, ano do centenário de Adoniran Barbosa, a Rede Globo de Televisão produziu uma maravilhosa homenagem ao artista, um episódio da ótima série Por Toda a Minha Vida. Facilmente encontrado no You Tube, publico aqui a segunda parte onde aparece a citação do professor Antonio Cândido e varias outras boas companhias como Elis Regina, Tom Zé e Gal Costa.


A Rede Globo anunciou nesta semana que irá retirar do You Tube todo o conteúdo produzido por ela. Enquanto isso não acontece vale a pena conferir o resultado.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

E agora Adoniran? O Dia do Rock

Cabisbaixo, triste e macambúzio com o esquecimento a que foi submetido no final  dos anos 1960 quando foi preterido pelos Beatles ou mesmo pela Jovem Guarda, o velho Adoniran Barbosa não se entregou. Lançou mão de termos da moda como 'brasa' e 'iê-iê-iê' para criar versos lindos, carregados de ressentimento, mas com a força que lhe era peculiar. No vídeo Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra, paulistaníssimos e roqueiros até a tampa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Será que vai vender (7) Apartamento de gente diferenciada

FSP - Outubro de 1959

No final de 1959, a Companhia para a Expansão da Construção anunciava o lançamento do edifício Vilaboim, na esquina da Rua Piauí com a Aracaju, na Praça Professor Vilaboim (hoje tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico). Já na época, a localização era considerada “privilegiadíssima”, como destaca o anúncio reproduzido acima com o título “Higienópolis valoriza seu conforto”. Exceto o trânsito, que aumentou consideravelmente desde a época, a descrição do bairro não mudou muito: “Entre a beleza e a tranquilidade dos mais aprazíveis jardins e praças”, destacava o anúncio. 
O “edifício totalmente isolado nos lados” oferecia apartamentos de dois ou três dormitórios com “armários embutidos, grande living, sala de jantar, banheiros em cores, elevadores rápidos e modernos, sociais e de serviço, garagens de grandes dimensões e ligação direta às garagens por elevador”.

Edif Professor Vilaboim, em um ângulo possível do Google Street View

sábado, 9 de julho de 2011

Não posso ficar, nem mais um minuto...

Adoniran Barbosa, em visita a Estação do Jaçanã. Foto sem data
Escrever sobre São Paulo, Adoniran Barbosa e o Trem das Onze requer tanto tempo quanto dedicação e respeito por estes símbolos da metrópole. Trem das Onze é uma música emblemática, além de ser cantarolada por todo e qualquer paulista assim que os primeiros acordes são tocados, representou muito para seu compositor que já em uma fase de esquecimento, ganhou com ela o concurso de Carnaval do Rio de Janeiro em 1965! Isso mesmo, a música que para muitos é símbolo da terra da Garoa foi a ganhadora do Carnaval do Rio. Outra curiosidade é que, segundo alguns biógrafos, Adoniran nunca teria ido ao bairro (pelo menos antes de compor) Usou o nome Jaçanã por que rimava com Amanhã de Manhã.


Lendas urbanas a parte, o que as vezes passa despercebido é que a linha de trem cantada por Adoniran não existe mais e que deixou uma grande lacuna no transporte da zona norte de São Paulo e em Guarulhos, cidade vizinha de São Paulo. Jaçanã era uma das estações do ramal da Cantareira, que partia de perto do Mercado da Cantareira, o famoso Mercado Municipal de São Paulo e seguia ruma a Cumbica, passando pelos bairros da zona norte entre eles, o Jaçanã.

Oferta de lotes para indústrias no condomínio Cumbica, em 2 de outubro de 1955. O Estado de São Paulo
Cumbica é um distrito de Guarulhos onde hoje fica o Aeroporto Internacional de São Paulo. Com o ramal ferroviário e linhas de ônibus, os irmãos Guinle; que em 1942 haviam doado uma gleba 401,72 alqueires para a Aeronáutica construir ali a Base Aérea de São Paulo; lançaram em 1955 um loteamento que teria como principal característica o Transporte Abundante e que seria um bairro industrial tendo em vista os incentivos fiscais promovidos pela prefeitura daquela cidade.


É provável que as vendas tenham sido um sucesso, Cumbica é ainda hoje endereço de muitas indústrias e multinacionais mas o ramal da Cantareira foi desativado em 1965, coincidentemente o mesmo ano que Adoniran compôs o samba famoso que inspira este post.
Estação de Cumbica, na Base Aérea. Foto sem data. Arquivo do Museu da Cia. Paulista, em Jundiaí, SP
fonte: www.estacoesferroviarias.com.br
A estação de Cumbica em dezembro de 2007. Foto Plínio César de Freitas
www.estacoesferroviarias.com.br
E agora Adoniran? 
Diante do sucesso de Trem da Onze e do fim da linha da Cantareira, o Jornal da Tarde, impulsionado pela pergunta que intitula este blog, levou o sambista para conhecer a estação que ele tornou famosa e diante dos fatos, Adoniran compôs outro samba, cuja letra está reproduzida na edição do JT de 1966:

Reportagem publicada no Jornal da Tarde em 22 de junho de 1966

Detalhe do Jornal, com a letra da música.
As consequências
O ramal da Cantareira possuiu ao todo 12 estações, sendo 6 delas apenas em Guarulhos, cidade que hoje, diferentemente do anúncio de 1955 enfrenta sérios problemas de transporte público e de trânsito. Não há culpados, o final dos anos 1950 e durante toda a década seguinte o Brasil fez a opção pelo transporte viário em detrimento ao transporte ferroviário. Era uma consequência da chegada das montadoras automobilísticas ao país, mas hoje quando vejo, quase que semanalmente notícias sobre "licitação sobre o trem do aeroporto" ou "governo diz ser inviável trem até Guarulhos" eu cantarolo bem baixinho "Não posso ficar, nem mais um minuto com você..."

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Billy Blanco

A cidade de São Paulo, diferente de algumas capitais, não possui um hino oficial.

Morreu hoje Billy Blanco, músico que compôs "Amanhecendo".

Quem sabe esta não seja uma boa oportunidade de nossos ocupados vereadores reconhecer a bela composição como hino da cidade. Para muita gente já é.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

João Artacho Jurado

João Artacho Jurado, por volta de 1957
Uma placa em uma pequena viela, de pouco mais de 50 metros no Ipiranga. É assim que a cidade de São Paulo homenageia um dos arquitetos que mais contribuiu para que os projetos imobiliários tomassem um caminho de conforto, beleza e exclusividade.

Arquiteto? Artacho nunca teve diploma de arquiteto. Filho de imigrantes espanhóis, completou apenas o primário. Seu pai, anarquista, tirou os filhos da escola em protesto contra a obrigatoriedade de jurar a bandeira. Autodidata, fundou duas construtoras: a primeira, Anhanguera, e, a segunda, Monções. Empresas que construíram os mais refinados e disputados projetos dos anos 1950 e 1960.

Constantemente fiscalizado pelo CREA e chamado de 'trambiqueiro'  nas placas de suas obras seu nome não podia figurar, precisava ser trocado pelo de um engenheiro responsável.  No entanto, Artacho Jurado dificilmente obedecia à imposição, aumentando a ira de alguns arquitetos, que consideravam ultrajante sua atuação profissional, visto que ele não era arquiteto formado.

Edifício Bretagne, em Higienópolis

Um dos projetos mais importantes de Artacho, o Bretagne, localizado na Avenida Higienópolis, lançou um conceito de condomínio na cidade de São Paulo, trazendo o lazer para dentro dos limites do prédio.
O edifício de 18 andares, inaugurado em 1958, foi o primeiro da capital a ter piscina, além do playground, salão de chá, de música etc. Chegou até mesmo a integrar o roteiro turístico da cidade. Ônibus traziam visitantes e turistas para tomar um drink no bar do prédio, o qual funcionava como o de um hotel.

Edifício Viadutos, visto do viaduto Jacareí - por Carlos Alckmim

Outro projeto, ainda mais famoso, o Edifício Viadutos, localizado no Viaduto Maria Paula, em frente à Câmara Municipal, no Centro de São Paulo, foi criticado na época de sua construção, mas hoje recebe elogios pela mistura de estilos - o moderno, o nouveau, o déco, o clássico, além dos elementos étnicos - e também por ter traduzido, naquela época, os sonhos hollywoodianos do pós-guerra. São 368 unidades distribuídas em 27 andares, onde moram mais de mil pessoas. Os custos com o dia-a-dia do Edifício Viadutos eram amenizados com um grande luminoso publicitário instalado no alto do prédio e os irmãos Jurado promoviam festas nos jardins do edifício, que eram divulgadas nas colunas sociais.

Para mais imagens das construções de Artacho existe uma comunidade no flicker http://www.flickr.com/groups/artachojurado/ e um livro da Editora Senac, que mostra toda a obra de Artacho Jurado, em São Paulo e em Santos.

Faça sua legenda.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Será que vai vender? (6) Jardim Europa

Anúncio do Estado, em novembro de 1928
Depois que o Rio Pinheiros teve seu sinuoso curso retificado e invertido para alimentar a Represa Billings, as áreas próximas às suas margens ficaram livre de enchentes nos anos 1920 e puderam ser ocupadas. Loteado em uma área pantanosa de 900 mil metros quadrados, surgiu o arborizado Jardim Europa. Atualmente o bairro é um dos mais valorizados da cidade, com residências de alto padrão. O anúncio acima, dos tempos do lançamento imobiliário, mostra que a área já nasceu com a proposta de ser  vendida como ‘bairro de elite’.
Bairro em imagem atual.

Estive neste final de semana no Centro de Convenções do Hotel Ibis, na Barra Funda onde as salas de conferência possuem nomes de bairros nobres. Ao lado de cada uma delas, uma pequena placa conta a história dos bairros. Na que estive leva o nome do bairro que inspirou este post.

Sala Jardim Europa, Hotel Ibis Barra Funda.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

E agora Adoniran? O "Bixiga"

Bixiga. Assim mesmo com I. Era assim que era conhecido o bairro paulistano da Bela Vista. Neste vídeo de 1978, Adoniran Barbosa leva Elis Regina para apresentar "o que sobrou do antigo Bixiga" e entre galinhas, cortiços e meninos jogando futebol o resultado é um documento histórico ao som de Saudosa Maloca.

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