segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Será que vai vender (12) - Cia City

Nem só de loteamentos e terrenos viveu a Cia City. Ao longo do período de vendas dos loteamentos, algumas casas eram construídas e vendidas posteriormente. A casa da rua Itápolis, 61 deve ter sido um dos primeiros "modelos decorados" que se viram por aqui. 

Jornal "LEVY" 5 de junho de 1931
No anúncio de O Estado de São Paulo de junho de 1931, um convite para o Último Dia - Será encerrada hoje a exposição do lindo e confortável palacete recém construído por esta Companhia. 

Estado de São Paulo, 1931

Nenhuma das casas dos anúncios existem hoje da maneira como foram concebidas. Mas é muito interessante perceber os cuidados dos projetos. O anúncio de abril de 1934 no Diário Popular apresenta uma OPTIMA CASA POR POUCO PREÇO. 







domingo, 25 de setembro de 2011

Cia City: Investimento Seguro


Os anúncios da Cia. City ofereciam mais que terrenos e melhorias inéditas para os moradores. As peças publicitárias propunham-se a educar e a conscientizar o futuro comprador da necessidade de investimento em imóveis.
Verdadeiro retrato de uma época, os anúncios da City podem ser considerados documentos históricos, quer seja pelo estilo gráfico das ilustrações, pela escolha e grafia das palavras ou pelos valores da sociedade que podem ser lidos nas entrelinhas dos textos. Neste primeiro apanhado, o tema é  INVESTIMENTO SEGURO.



Pacaembu: A Nova Maravilha Urbana

Anúncio do loteamento Pacaembu, sem data 
No início do século XX, São Paulo contava com os imponentes casarões dos Campos Elísios, onde ficavam a sede do Governo, em Higienópolis e a avenida Paulista era quase que exclusividade dos Barões do Café. Havia na cidade uma escassez na oferta de casas para morar, bem como na pavimentação de ruas, iluminação, água, esgotos e transportes. 
No apogeu do ciclo cafeeiro e com o inicio da industrialização, essa carência afetava tanto a população operária (vide Vilas Operárias neste mesmo blog) quanto a burguesia emergente. Esse cenário conferia à iniciativa privada um papel quase que de substituta do poder público na organização da ocupação urbana, uma vez que São Paulo não tinha um plano diretor para norteá-la. É neste nicho mal explorado, ou sequer explorado que a Cia City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited cresceu e prosperou na cidade comprando terrenos enormes e acidentados e criando neles empreendimentos de sucesso.

Foto do Pacaembu, meados dos anos 1930
Um dos primeiros empreendimentos da City foi o Pacaembu. O hoje consagrado e famoso bairro fora um imenso terreno alagado (dai o nome atoleiro em tupi-guarani) no passado. Comprado e terraplanado pela City o Pacaembu logo passou a ser noticiado como o futuro “bairro mais belo e aristocrático de São Paulo, orgulho da capital paulista” (jornal “A Capital”, de 25 de março de 1913). O alvoroço foi causado pelos planos da Cia City de criar ali um bairro com todas as características inovadoras do conceito urbanístico da cidade-jardim, incorporando ainda melhorias básicas como eletricidade e rede de água e esgoto.


O ambicioso projeto foi embargado pela Prefeitura que ainda não tinha legislação para julgá-lo. Retomado em 1925 pode ser retomado sob várias determinações que foram designadas pela própria empresa: as residências do loteamento do Pacaembu não deveriam ultrapassar os dez metros de altura e nem ocupar mais de um terço do terreno.  As ruas sinuosas acompanhavam a topografia e a forte presença de vegetação reforçava o conceito de City-Garden implementado.

Anúncio de 1928, do jornal Fanfula, publicado em italiano
Nos dez anos seguintes ao seu lançamento, a City faz intenso uso de anúncios nos jornais paulistanos para divulgar e instruir sobre seus empreendimentos. Estes anúncios muitas vezes eram direcionados a colônias de imigrantes, daí tantos em alemão, italiano e japonês.  Outra característica era citar bem feitorias ou atentar para símbolos de prosperidade como AUTOMÓVEIS que poderiam ser vistos circulando pelo bairro.
O Estado de São Paulo, 1937

O sucesso do empreendimento inspirou outros que viriam a seguir, mas fez o Pacaembu um lugar único na cidade. Seu traçado, seu paisagismo e solo permeável foram considerados patrimônio público e tombados pelo Condephatt em 1991

Mapa da Prefeitura sobre o Tombamento do Bairro.
Lei agregou também o bairro de Perdizes.
Hoje o Pacaembu é um dos bairros mais valorizados da capital paulista, com baixa densidade populacional é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor A". Seus moradores são atentos e lutam contra a poluição visual, verticalização e foi isso inclusive que não permitiu que o Pacaembu, estádio municipal fosse sequer citado para a Copa do Mundo que deve ser realizada em 2014 no Brasil.

sábado, 24 de setembro de 2011

Cia City - 100 anos



Há 100 anos chegava a São Paulo a empresa londrina Improvement and Freehold Land Company Limited  que ficou conhecida por aqui como Companhia City.   
Foi a Cia City a primeira empresa a criar empreendimentos imobiliários em formato de loteamento em São Paulo. Seus bairros são conhecidos pelos arruamentos sinuosos, restrição a edifícios altos e vasta vegetação. Hoje são os mais valorizados da cidade, mas em meados do século XX  o Jardim América era um alagado, o Pacaembu não passava de um aglomerado de chácaras, e o Butantã de um lugar ermo e distante. 



A empresa centenária continua atuante, ao longo de sua história participou de projetos importante como a retificação do Rio Pinheiros para viabilizar o Jardim América e Europa, atuou em Minas Gerais, Santa Catarina entre outros Estados Brasileiros. Em 2011 está associada a Prefeitura no Projeto Nova Luz, o que confere credibilidade ao empreendimento. Em nome dos 100 anos, começo aqui uma série de posts sobre a empresa. O primeiro sobre o Pacaembú.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fuja Bandit


Ok. Não tem nada a ver com São Paulo, música, mercado ou Adoniran Barbosa. Mas não me contenho quando vejo algo criativo. Jonny Quest, uma animação originalmente produzida nos anos 1960 e que passou por aqui em vários canais durante os 70 e 80 foi uma série que marcou época, servindo de inspiração inclusive para batizar a banda mineira J.Quest que um dia se chamou Jonny Quest.
Um nerd chamado Roger D. Adams refez a abertura com brinquedos. Quem tem mais de 30 vai lembrar, quem não tem pode comparar com a abertura original do desenho da Hanna Barbera postada abaixo.




domingo, 18 de setembro de 2011

Vilas Operárias (3) Vila Economizadora


Anúncio do Estado de São Paulo de 17/03/2011

A resolução SC 36/80, de 27 de setembro de 1980 o Condephaat declara "tombado o conjunto residencial operário denominado  Vila Economizadora, nesta capital, exemplar representativo de nosso primeiro ciclo industrial e documento arquitetônico ligado à imigração italiana em São Paulo".
Sede da Economizadora Paulista em 1911 e o mesmo prédio em dias atuais
Situado a rua São Bento, 87 em numeração atual
fonte: fotolog Saudade Sampa de Eli Mendes Cunha
Diferente da Vila Maria Zélia, onde os moradores eram todos de uma única empresa, a Economizadora - construída entre 1908 e 1915 - não era uma vila operária propriamente dita. Fora construída por um empreendimento da Sociedade Mútua Economizadora Paulista, tinha as casas alugadas para trabalhadores de diferentes indústrias principalmente a imigrantes italianos. 

Busto do Comendador João Ugliengo em uma esquina da Vila.
As cinco ruas da Vila  são dos sócios da Economizadora. 
Essa grande quantidade de italianos que trabalhavam no Moinho Santista fizeram que em 1935 seu presidente, o comendador João Ugliengo comprar todas os 200 casas e manter os inquilinos. Um busto dele ainda é encontrado fincado em uma esquina da Vila.

A Vila Economizadora em dias atuais.
A exemplo da Maria Zélia e da Matarazzo (não tombada) no Belém as casas da Vila Economizadora pertencem hoje em grande maioria aos moradores. Apesar do Tombamento, aparecem aqui e ali várias pequenas reformas com modificação nas fachadas. Sem incentivo, os moradores ficam reféns de construções muito antigas que necessitam de manutenção. 
Ao escrever sobre Tombamento e Preservação do Patrimônio minha intenção é mostrar que não basta decretar que algo é representativo, símbolo de uma época. Isso é só a primeira etapa de um processo que obrigatoriamente precisa passar por Restauro e Conservação. Do contrário é melhor que nem seja feito.


sábado, 17 de setembro de 2011

Vilas Operárias (2) - Vila Maria Zélia

A segunda vila operária postei por aqui antes, agosto quando da ocasião da Prefeitura de não mais restaurar a Vila Maria Zélia. É o contrário da Vila dos Ingleses: como não cuidar de um patrimônio histórico.  Abaixo o texto como o publiquei:
A Prefeitura de São Paulo desistiu de reformar o conjunto de prédios históricos da Vila Maria Zélia, no Belenzinho, zona leste, a primeira vila operária da cidade. Devem ter outras prioridades como estádios de futebol por exemplo. A matéria completa saiu na Folha de São Paulo hoje. O link é esse aqui: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/953167-prefeitura-de-sp-desiste-de-restaurar-predios-da-vila-maria-zelia.shtml
Para saber sobre a Vila Maria Zélia, o ótimo Carlos Dorneles fez pela Rede Record uma matéria definitiva  em 2009. De lá pra cá nada mudou.


Vilas Operárias - A Vila dos Ingleses

Quando se fala em edifício ou conjunto imobiliário tombado, normalmente o que se tem em mente são prédios em ruínas, que só estão ali porque um dia alguém decidiu que eles deveriam ser preservados. Com o passar do tempo nada é feito e aquela construção torna-se refém do decreto que serviria para lhe dar nova vida.
Não precisa ser assim. Existe ótimo exemplos de como o patrimônio pode ser preservado e ainda assim abrigar uma estrutura moderna. Vide exemplos como a Estação da Luz e o Residencial Casa das Caldeiras já mencionados neste blog. 
Habitações operárias da Vila Nitro Química em São Miguel Pta

As Vilas Operárias
As vilas operárias são resquícios de um tempo em que a cidade de São Paulo era um pólo fabril onde as empresas se arrastavam pelo eixo ferroviário da Barra Funda até o Belém. As periferias eram bairros ermos e sem infraestrutura e o deslocamento difícil.
Para diminuir o desconforto ou manter seus colaboradores por perto, as grandes indústrias, muitas vezes, instalavam vilas operárias próximas ao seu entorno e proviam seus funcionários de comércio, escola, igreja, creche, lazer além de claro moradia.
A maioria delas não existe mais. Os órgão de defesa do patrimônio decidiu que pelo menos três delas deveriam ser tombadas. Começo por aquele que é o melhor exemplo de preservação:

A Vila dos Ingleses

Vila dos Ingleses em foto recente
Ruas limpas, pintura impecável, nada de lixo da rua. Encravada na soturna rua Mauá, próximo a passarela da Rua São Caetano depois da avenida Prestes Maia tinha tudo para ser um local em ruínas ou esquecido. Tombada pelo Condephatt em 1980, seu terreno pertenceu à marquesa de Itu, e o construtor era seu genro. A vila foi inaugurada em 1917, com o nome de Casas Jardim Marquesa de Itu, com a intenção de alugar para os engenheiros que vinham da Inglaterra para trabalhar na empresa São Paulo Railway, concessionária inglesa que construiu e operou até 1947 a ferrovia Santos-Jundiaí. 

Localização da Vila dos Ingleses.
A arquitetura foi inspirada nas vilas operárias londrinas, com lavanderia e cocheiras entre as casas para garantir a ambientação dos inquilinos passou então a ser chamada de Vila dos Ingleses. Com o fim da São Paulo Railway e o declínio da região os 28 sobrados de 200m² viraram cortiços com o passar dos anos. Após o tombamento, o bisneto do construtor, o advogado Pierre Moreau assumiu o conjunto e trocou todos os locatários. Em vez de famílias, o advogado decidiu implantar um centro comercial. Passou a alugar os imóveis a preços simbólicos, com a condição de que os novos inquilinos reformassem as casas sem transfigurá-las.

Fachada das casas que servem como escritórios
O resultado é uma ilha de tranquilidade e preservação em um dos bairros mais degradados da cidade. Escritórios que apostaram na Vila dos Ingleses como endereço deverão ser beneficiados pelo projeto Nova Luz que redesenhará a região deverá valorizar a construção. A Vila dos Ingleses é um ótimo exemplo de como os conjuntos tombados pelo Patrimônio Histórico podem ser preservados e mesmo sem incentivo governamental podem imprimir nas cidades um elo de ligação entre o passado e o presente.

Tombamento

Fachada do Cine Belas Artes em foto do Estado de SP tirada
esta semana.
Na semana que o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) adiou novamente a decisão sobre o Tombamento do Belas Artes decidi estudar um pouco sobre o assunto Tombamento antes de repercutir aqui no blog sobre alguns locais tombados em São Paulo que merecem atenção.

De uma maneira geral, sempre soube que um prédio tombado era um patrimônio que deveria ser preservado e não poderia ser demolido ou tombado. Que raio de pleonasmo é esse?

Pois bem a lei que "Organiza a Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional" foi o Decreto-lei n 25, assinado pelo senhor Getúlio Vargas em 30 de novembro de 1937. Em seu artigo primeiro defini como patrimônio histórico e artístico "o conjunto de bens móveis e imóveis existentes na País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, que por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

Perfeito o texto, mais claro impossível. Em 1937 o Brasil era um país essencialmente agrário em um incipiente processo industrial que discutia vários valores. É desta época a Reforma Capanema que separou  a escola da igreja. Até então o ensino no Brasil era responsabilidade dos padres. 

Voltando ao Tombamento, o texto da lei segue referindo-se que os "bens a que se referem o presente artigo  só serão considerados parte do patrimônio histórico depois de inscritos num dos quatro livros do Tombo de que trata esta lei."

Quem já trabalhou em cartório sabe que Livro de Tombo é apenas uma forma de arquivar ou catalogar documentos. E em seu capítulo segundo, a lei divide o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em quatro livros de Tombo: 
- Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico 
- Livro do Tombo Histórico
- Livro do Tombo das Belas-Artes
- Livro do Tombo das Artes Aplicadas

Pronto. Entendido que um Patrimônio Tombado é um bem, que pode pertencer à União ou de propriedade particular que deverá ser preservado segundo as suas características originais. Os capítulos seguintes da lei falam sobre desapropriações, de da alienação dos bens e da obrigação dos proprietários. 

Em momento da lei de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional fala sobre a obrigação de Restauro. Diz em seu capítulo quarto, artigo 23 que o "Poder Executivo providenciará a realização de acordos entre a União e os Estados para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas à proteção do patrimônio histórico (...)".

Não sei nada sobre leis, mas é claro que adendos e emendas devem ter sido acrescentados a este lei. Também fica obvio que foi do artigo acima que surgem as siglas dos órgãos que ouvimos sempre: IPHAN Instituto do Patrimônio  Histórico e Artístico Nacional (esfera Federal), no Estado de São Paulo o CONDEPHATT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico e na cidade de São Paulo o órgão responsável é o CONPRESP descrito acima. 

Feita toda essa introdução, poderia escrever com mais propriedade sobre três vilas industriais tombadas na cidade de São Paulo. 

domingo, 11 de setembro de 2011

Iracema

Iracema merece uma tese de Mestrado. Eu a considero a mais importante composição de Adoniran Barbosa. Mas enquanto não termino o texto sobre a música, posto aqui uma versão magnífica com o compositor atônito com a interpretação de Elis Regina: "Não é porque o samba é meu não, mas você canta gostoso, canta como eu quero, você leva a sério!" Exigente Seu Adoniran.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Hotéis Antigos (2) - Ca'd'Oro


Terminei o último post falando sobre a Brookfield e de sua feliz estratégia de interagir com os locais onde implanta seus projetos. Foi assim com o Urbe vendido pela Lopes e foi assim com o Ca'd'Oro recém lançado e totalmente vendido no centro de São Paulo.

No dia 15 de julho de 1965, o Gran Hotel Ca’ d’Oro anunciou no Estadão
a abertura das portas do primeiro cinco estrelas de São Paulo.
Fabrizio Guzzoni, o fundador, vinha de uma família de Bergamo, norte da Itália, que estava no negócio de hotelaria desde o século XIX. Inicialmente começou como um restaurante na rua Barão de Itapetininga, depois um hotel na rua Basílio da Gama.  Em 1965, Guzzoni inaugurou o prédio sofisticado com estacionamento e piscina panorâmica na Rua Augusta que deu fama ao Ca’ d’Oro, o primeiro 5 estrelas da cidade. 

Com o declínio da região central, a exemplo dos grandes hotéis paulistanos, o Ca'd'Oro sofreu até agonizar em 2009. Em uma ação bastante louvável, a Brookfield associou-se a família Guzzoni e concebeu um projeto misto bastante interessante, totalmente integrado com a história do antigo Ca'd'Oro.


E apostar em história, em integração com a cidade dá resultado? Com a venda de duas torres em poucas horas - lançadas no último dia 03 de setembro -  a Brookfield prova que é possível fazer negócios apostando na força transformadora do mercado imobiliário.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Torre Matarazzo

Folha de São Paulo 2-12-1994
Acabei de ler no blog da VivaReal que o projeto da Cyrela no local onde antes ficava a Mansão Matarazzo foi aprovado pela CET apesar do trânsito já, digamos saturado na região. O empreendimento Torre Matarazzo contará com um shopping e uma torre comercial e tem a Camargo Correa como sócia no desenvolvimento e futura construção.

A mansão Matarazzo, símbolo da importância que esta família teve para São Paulo, não deve ser o único mas certamente é o mais famoso prédio a ser 'destombado' pelo patrimônio público, graças ao empenho da famosa família que nunca ficou satisfeita com a desapropriação. Um desabamento pra lá de suspeito em 1994 reverteu o processo e a propriedade voltou para seus antigos donos.

Folha de São Paulo - 1990
Em 1996 um laudo pericial apontou que o desabamento foi intencional. Antes que o processo fosse reaberto a casa foi demolida e serviu até a pouco tempo como estacionamento. Em 2007, o terreno foi vendido a Cyrela por R$ 125 milhões conforme apurou a Folha de SP .

Cronologia publicada na FSP em setembro de 2010
O Brasil é um país livre, que respeita a propriedade privada e incentiva os empreendimentos. O mercado imobiliário é forte e pujante, cria espaços e transforma para melhor os bairros e cidade. Não precisa se estabelecer em locais onde há discussão de valores públicos. Mas fica claro que a prefeitura de Gilberto Kassab visa o lucro apenas pelo fluxo de caixa (veja o caso do descongelamento os estoques da operação Faria Lima no Estado). A obra mal começou e as construtoras já demonstram pouca preocupação com o impacto sócio-ambiental da Torre Matarazzo, os tapumes da construção invadiram a calçada, atrapalhando quem faz uso do piso tátil que facilita a locomoção de deficientes visuais. A matéria saiu na Folha no último 27 de agosto.

Tapume da obra Torre Matarazzo invadindo a calçada na Avenida Paulista
As duas empresas que estão fazendo esta obra parecem ter perdido o passo da história: além de invadir calçada, comprar terreno destombado, aumentar o impacto do trânsito na cidade ainda fazem um tapume de material metálico que esquenta, cortante e convidativo para a pichação. Em tempos de lei 'cidade limpa' nada mais correto que seguir o exemplo da Brookfield com seu Urban Galery

Projeto da Construtora Brookfield transforma tapumes de obras
 em Galerias de Arte.
Muitos consumidores hoje deixam de comprar ou consumir produtos de origem duvidosa ou que não respeitem funcionários, meio ambiente ou processos de produção. Espero que no futuro bem próximo estes critérios cheguem ao mercado imobiliário. Felizmente a maioria das construtoras está preparada.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Diferente de tudo que 'tá' ai...


Em 1985, com o fim do Governo Militar (1964-1985) a cidade de São Paulo poderia depois de mais de 20 anos escolher o seu prefeito. Com as intenções de voto polarizadas entre Fernando Henrique (então no PMDB) e pelo ex presidente Jânio Quadros (PTB). O PT era um partido com meia dúzia de deputados e vereadores que se apresentava como uma terceira via. Sob a candidatura de Eduardo Suplicy e inspirada no clip 'USA for AFRICA' a campanha era empolgante falava de 'uma cidade humana' e de um 'homem que trabalha pela gente, diferente de tudo que ai' e contava com a participação de políticos, jogadores de futebol e alguns dos artistas mais respeitados por sua postura, obra e conduta como Antonio Fagundes, Gonzaguinha e outros, muitos e muitos outros.


Suplicy terminou em 3 lugar naquele ano. Mesmo assim o resultado foi uma vitória para o Partido dos Trabalhadores que elegeu uma grande quantidade de vereadores e prefeitos país a fora. A força daquela campanha ajudou na eleição de Luiza Erundina para prefeita de São Paulo no pleito seguinte em 1988. Suplicy foi eleito vereador e em seguida senador pelo Estado de São Paulo, cargo que ocupa muito dignamente até hoje. 
Pois foi aquela campanha de 1985 que alavancou o PT de um partido regional para se tornar na maior força eleitoral que este país já viu. 25 anos depois o partido já elegeu incontáveis prefeitos, dezenas de governadores e senadores e por três vezes o presidente da República. Conseguir este status, não é tão difícil como mantê-lo. Talvez por isso o nobre senador, tenha aceitado o desafio da indicação no vídeo abaixo:



"Entre Rios"



Recebi do meu amigo Gordon um excelente documentário sobre como os rios paulistanos foram estrangulados.
Com 25 minutos, "Entre Rios" foi um trabalho de conclusão de curso no Senac. Excelente. Vale cada instante.

domingo, 4 de setembro de 2011

Nova Luz 1: O Vale do Anhangabaú

Cartão Postal de São Paulo. Em destaque o Vale do Anhangabaú
com seu boulevard de 70 mil m²
Tenho lido muitas opiniões contrárias ao projeto Nova Luz. A maioria delas são dos comerciantes da região da Santa Ifigênia que dizem ter prejuízo com o período de obras. Obra é chato. Sujeira, transtorno e demora mais que o previsto na maioria das vezes. Mas um dia acaba e o incomodo não é nem lembrado depois. Em 1988, uma grande preocupação na cidade de São Paulo eram as obras de reurbanização do Vale do Anhangabaú. 

Abril de 1988. As obras de reurbanização do Anhangabaú
se arrastaram até 1991. Veja SP 6-4-88
Posto em andamento por Jânio Quadros o projeto tinha a ousada proposta de cobrir a avenida Prestes Maia com uma praça pública: "onde atualmente passam ônibus e automóveis ficarão, no futuro, as pessoas. No total o calçadão terá o equivalente a duas praças da Sé e duas praças da República juntas por onde a multidão de 1,5 milhões paulistanos que passa diariamente pelo Vale poderá andar sem disputar espaço com os automóveis. E os carros? Eles serão desviados para baixo, passarão por dois túneis, sob esse calçadão, e voltarão à tona nas imediações do viaduto do Chá. Com este projeto, privilegiamos o pedestre" dizia em entrevista a Veja SP o urbanista que assinou o projeto Jorge Willeim em abril de 1988.

A Maquete do 'futuro' Vale.
Muito parecida com o resultado final.
Levaram anos mas as obras de revitalização do Vale do Anhangabaú acabaram. Não durante a gestão Jânio, mas já sob as ordens de Luiza Erundina. Diferente do que foi feito na praça Roosevelt, o projeto foi muito bem feito e tomou como referência outras construções na região como o Teatro Municipal e o Edifício dos Correios. Ao longo de todo o local muito verde e pequenos recantos além de uma grande fonte de água e banheiros públicos. A inauguração do local foi o grande simbolo da gestão Luiza Erundina, rapidamente as grandes manifestações populares ganharam o endereço: os comícios, as festas de comemoração, os shows gratuítos (todas as sextas feiras um grande nome da MPB se apresentava ali, eu mesmo vi Cassia Eller, Almir Sater, Oswaldo Montenegro, Caetano Veloso, Hermeto Paschoal, Titãs, Ney Matogrosso). Foi também ali que houveram grandes manifestações contra o Governo Collor de Mello. 
Virada Cultural. Milhares de turistas e paulistanos
passam pelo Anhangabaú durante o evento.
Com o passar do tempo (20 anos apenas!) e com a mudança do eixo econômico da cidade o Vale perdeu a importância e mesmo tendo a prefeitura como endereço está um tanto jogado. A fonte e os banheiros públicos estão fechados. Servem de abrigo e lavanderia para moradores de rua. Mas uma vez por ano o local volta a sua vocação de praça pública. É ali o ponto de partida da Virada Cultural, evento muito bem sucedido que faz parte da agenda da cidade. 

O Nova Luz não contempla o Vale do Anhangabaú, mas esta ali pertinho, será obviamente beneficiado. Faço votos que em poucos anos ninguém lembre do período de obras, mas se alegre do legado que será deixado para a cidade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Nova Luz

Detalhe do projeto NOVA LUZ
Acabei de receber as 400 páginas do Projeto Nova Luz. A proposta é a de total revitalização da região que conta com a Santa Efigênia, a antiga Rodoviária e a temida Cracolândia. Vou ler o projeto no final de semana e pingo uma opinião ou outra por aqui.
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