sábado, 9 de julho de 2011

Não posso ficar, nem mais um minuto...

Adoniran Barbosa, em visita a Estação do Jaçanã. Foto sem data
Escrever sobre São Paulo, Adoniran Barbosa e o Trem das Onze requer tanto tempo quanto dedicação e respeito por estes símbolos da metrópole. Trem das Onze é uma música emblemática, além de ser cantarolada por todo e qualquer paulista assim que os primeiros acordes são tocados, representou muito para seu compositor que já em uma fase de esquecimento, ganhou com ela o concurso de Carnaval do Rio de Janeiro em 1965! Isso mesmo, a música que para muitos é símbolo da terra da Garoa foi a ganhadora do Carnaval do Rio. Outra curiosidade é que, segundo alguns biógrafos, Adoniran nunca teria ido ao bairro (pelo menos antes de compor) Usou o nome Jaçanã por que rimava com Amanhã de Manhã.


Lendas urbanas a parte, o que as vezes passa despercebido é que a linha de trem cantada por Adoniran não existe mais e que deixou uma grande lacuna no transporte da zona norte de São Paulo e em Guarulhos, cidade vizinha de São Paulo. Jaçanã era uma das estações do ramal da Cantareira, que partia de perto do Mercado da Cantareira, o famoso Mercado Municipal de São Paulo e seguia ruma a Cumbica, passando pelos bairros da zona norte entre eles, o Jaçanã.

Oferta de lotes para indústrias no condomínio Cumbica, em 2 de outubro de 1955. O Estado de São Paulo
Cumbica é um distrito de Guarulhos onde hoje fica o Aeroporto Internacional de São Paulo. Com o ramal ferroviário e linhas de ônibus, os irmãos Guinle; que em 1942 haviam doado uma gleba 401,72 alqueires para a Aeronáutica construir ali a Base Aérea de São Paulo; lançaram em 1955 um loteamento que teria como principal característica o Transporte Abundante e que seria um bairro industrial tendo em vista os incentivos fiscais promovidos pela prefeitura daquela cidade.


É provável que as vendas tenham sido um sucesso, Cumbica é ainda hoje endereço de muitas indústrias e multinacionais mas o ramal da Cantareira foi desativado em 1965, coincidentemente o mesmo ano que Adoniran compôs o samba famoso que inspira este post.
Estação de Cumbica, na Base Aérea. Foto sem data. Arquivo do Museu da Cia. Paulista, em Jundiaí, SP
fonte: www.estacoesferroviarias.com.br
A estação de Cumbica em dezembro de 2007. Foto Plínio César de Freitas
www.estacoesferroviarias.com.br
E agora Adoniran? 
Diante do sucesso de Trem da Onze e do fim da linha da Cantareira, o Jornal da Tarde, impulsionado pela pergunta que intitula este blog, levou o sambista para conhecer a estação que ele tornou famosa e diante dos fatos, Adoniran compôs outro samba, cuja letra está reproduzida na edição do JT de 1966:

Reportagem publicada no Jornal da Tarde em 22 de junho de 1966

Detalhe do Jornal, com a letra da música.
As consequências
O ramal da Cantareira possuiu ao todo 12 estações, sendo 6 delas apenas em Guarulhos, cidade que hoje, diferentemente do anúncio de 1955 enfrenta sérios problemas de transporte público e de trânsito. Não há culpados, o final dos anos 1950 e durante toda a década seguinte o Brasil fez a opção pelo transporte viário em detrimento ao transporte ferroviário. Era uma consequência da chegada das montadoras automobilísticas ao país, mas hoje quando vejo, quase que semanalmente notícias sobre "licitação sobre o trem do aeroporto" ou "governo diz ser inviável trem até Guarulhos" eu cantarolo bem baixinho "Não posso ficar, nem mais um minuto com você..."

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