segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Moóca ou Mooca?


Estação Mooca fotografada em 20 de dezembro 11


Peça para um paulistano com mais de 30 anos de idade para escrever o nome do bairro paulistano, de origem operária e com forte tradição italiana e possivelmente ele vai grafar Moóca com acento agudo no segundo como era comum até os idos dos anos 1990. 

Anúncio da Folha de São Paulo em 1993.
Fachada da Estação Moóca da CPTM em 2004  - Blog Estações Ferroviárias 
Ande pelas ruas da Mooca e vai encontrar as placas de sinalização mais recentes e vai encontrar o nome do bairro sem o acento. Acontece que o professor mooquense Pasquale Cipro Neto, determinou no programa de TV Nossa Língua Portuguesa ao final dos anos 1990:
“A separação silábica de 'Mooca' é 'Mo-o-ca'; a sílaba tônica é 'o'. Não há acento porque a palavra é paroxítona terminada em 'a', como 'foca', 'broca', 'maloca', 'judoca', 'tapioca' e tantas outras, que também não levam acento. Há quem queira afirmar que a palavra tem acento por causa do 'hiato' (vogais que vêm em seguida, mas ficam em sílabas separadas). De fato, há hiato na palavra 'Mooca', mas esse tipo de hiato não se acentua. “
Devagar e sem alarde, durante nos anos 2000; a década da inclusão mas também da parcimônia e do politicamente correto; as novas placas de sinalização foram sendo trocadas aos poucos pela prefeitura como que envergonhada por um erro que nunca havia sido percebido.
Rua da Mooca em 2011.
Estação Bresser, no Bairro do Brás, rebatizada de
Bresser-Mooca em 2006.
A mudança no acento (que não tem nada a ver com a reforma ortográfica) parece um detalhe bobo, supérfluo e irrelevante, mas reflete a transformação de um dos bairros mais tradicionais e símbolo do primeiro período industrial de São Paulo em uma região estritamente residencial onde o mercado imobiliário aproveita o apelo acolhedor que a Moóca possui para vender mais e mais apartamentos.

Origem da Moóca

O bairro da Moóca tem origem na fundação de São Paulo, o nome tem origem indígena e significa 'Fazer Casa' (Moo: faz, fazer + oca: casa). Sobre a rua da Moóca, a sua primeira representação em um mapa oficial da cidade é de 1842 onde aparece com o nome de 'Caminho da Muóca'. Já em 1897, a velha trilha indígena aparece como rua da Moóca.

Antigo esquema da estrada de ferro Santos-Jundiaí. Mapa do final do século XIX
Devido a sua proximidade com a ferrovia, responsável pelo escoamento da produção cafeeira para o litoral, a Moóca foi o berço da processo de industrialização de São Paulo, no final do século XIX. A proximidade com a Hospedaria dos Imigrantes (situada no Brás) fez do bairro morada das primeiras levas de imigrantes europeus, sobretudo italianos que povoaram a região.

E Agora Adoniran? 

Uma prova do bairro industrial e de casas operárias ao redor é a composição de Adoniran Barbosa, que seria a continuação da narrativa de 'Saudosa Maloca'. Em 'Abrigo de Vagabundo', o personagem que teria sofrido um despejo na região central encontra 'lá no Alto da Moóca' o abrigo que precisava. Vale conferir:



Os processos de industrialização, povoamento operário e imigração europeia fizeram da Moóca uma região única em São Paulo, com características bem definidas. O bairro possui bandeira e até mesmo hino, coisa que a capital paulista ainda não possui. O mooquense é um sujeito orgulhoso de suas tradições e origens, possui hábitos bairristas e dificilmente compra ou migra para outro bairro. Quem vê a Moóca de fora sonha em morar no bairro e fazer parte desta 'confraria'. É de olho nisso que o mercado imobiliário direciona seus projetos para o bairro.


Para se vender um empreendimento imobiliário, é preciso muitas vezes convencer o público alvo quanto a localização, infraestrutura e qualidade de vida. Quando se fala em Moóca qualquer empresa pode poupar este discurso porque tudo isto já está implícito. O vídeo acima é o caso mais emblemático de como o bairro é  importante para o mercado imobiliário e de como uma campanha ali precisa de certos cuidados, escrever Moóca com acento, pode ser pequeno erro, mas ninguém quer pagar para ver o resultado.

Anúncios de empreendimentos na Mooca desde 2003.
Aqui não tem acento.

Mooquense: Patrimônio imaterial da cidade.

Tramita no Conpresp  (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) projeto da câmara dos vereadores a proposta de tornar o sotaque da Moóca um patrimônio histórico da cidade. Se aprovado aquele jeito de falar cantado, muitas vezes errado suprimindo o 'S' será o primeiro Bem Imaterial Protegido em São Paulo. E se dá pra proteger o sotaque, cá entre nós, poderiam voltar a escrever Moóca com acento né memo belô?



Não é de meu costume defender que se escreva o português de maneira errada. Até porque, mesmo com a explicação do professor Pasquale não há consenso sobre a forma correta de se escrever Moóca. Eu, que sou apegado as tradições, escolhi escrever com o Ó acentuado, da maneira que aprendi, que vi nas placas do bairro, na estação de trem, na rua dos Trilhos e no Senai. E espero que esse movimento, de elitização dos bairros através da queda de acentos pare por aqui, afinal o que seria da Freguesia do Ó?

sábado, 24 de dezembro de 2011

Era noite de Natal...

Ilustração de Elifas Andreato para o primeiro disco de Adoniran Barbosa

Julgando por muitas de suas músicas, sempre carregadas de histórias irreverentes, podemos crer que Adoniran Barbosa, pseudônimo de João Rubinato era um homem feliz.  Ao estudar sua biografia, percebe-se o quanto ele era um homem macambuzio, ressentido e magoado por ter sido esquecido e redescoberto depois de décadas (o primeiro disco autoral de Adoniran data de 1974 quando ele já tinha 64 anos de idade).
Para Adoniran, não havia graça alguma no despejo na favela, no atropelamento de Iracema ou na marmita com torresmo a milanesa. Ele considerava sua forma de descrever o cotidiano como 'chapliniana' e ficava assim, triste quando alguém achava graça de suas composições. E foi assim, desta maneira que lhe era muito peculiar e que lhe tornou famoso que Adoniran Barbosa criou sua única música sobre o Natal, aqui interpretada por Mônica Salmaso.



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Será que vai vender?

Os anúncios dos anos 1960 retratam o estilo de vida da época
Compreende-se como documento histórico todo o material produzido em uma determinado época, que possa auxiliar o historiador em sua análise. Na seção 'será que vai vender' seleciono anúncios antigos de empreendimentos que eram projetos e que hoje são realidade. São testemunhas da verticalização e do desenvolvimento de São Paulo através de sua história imobiliária.
Escrevi para o Marketing Imob um texto que conta cronologicamente este processo. A integra do texto no link a seguir: A Verticalização de São Paulo em 10 anúncios históricos.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Capitã8


Meu filho ganhou um vídeo game. Desses modernos, cheio de sensores, quase sem fios. É muito legal vê-lo se desenvolvendo tão rápido. A coordenação motora das crianças do século XXI parece realmente mais avançada que a de uma ou duas gerações passadas. Com apenas 5 anos ele diverte-se com jogos de corrida e começa a gostar de futebol. Meu grande barato é ver seus dedinhos serelepes no joystick passando e tocando e fazendo gols. Aos poucos ele vai se familiarizando com os números 25, 30, 99 dos jogadores de hoje em dia.

Eu tinha um pouco mais que a idade dele quando comecei a gostar de futebol. Em 1982 figurinhas do chiclete Ping-Pong eram a única fonte de informação sobre as seleções que iriam disputar a Copa do Mundo na Espanha. Algumas eram valiosíssimas como as do goleiro soviético Dasaeiv ou a do francês Michel Platini. Era muito legal passar nos campinhos e ouvir um moleque defender e gritar: Daasssaaiiieeevvvvv! No entanto, as mais disputadas e desejadas eram a do timaço do Brasil. Tínhamos um verdadeiro esquadrão e seria impossível perder aquela Copa. A cada jogo, uma nova vitória empolgante, um verdadeiro show.


Eu não entendia nada de futebol. Mas foi uma ótima maneira de conhecer o esporte. Enchia meu pai de perguntas: Quem era esse? Quem era aquele? Até que as respostas sobre um jogador me fizeram paralisar: Quem é o número 8? O Sócrates! E por que ele usa uma faixa no braço? Porque ele é o capitão da seleção!
C a p i t ã o  d a  S e l e ç ã o  B r a s i l e i r a! Aquilo soou como um trovão dentro de mim. Como o Sócrates era importante! Tornou-se naquele momento o meu primeiro ídolo no esporte. Passei a observá-lo com mais atenção. Sócrates era um jogador diferente, comandava o meio-campo de maneira sóbria e quando os jogadores de frente não marcavam os gols, ele aparecia e resolvia. Pelo menos era assim que eu enxergava nos meus olhos de garoto.
O Brasil perdeu aquela Copa, foi desclassificado pela Itália de Paolo Rossi. Dia triste aquele. ‘Mas o Sócrates fez o dele!’, pensava eu tentando entender como aquela seleção poderia não ser a campeã. Com a derrota o futebol ficou mais triste e eu comecei a entender um pouco mais sobre vitórias, derrotas e adversários.
Dias depois, talvez para me distrair, meu pai me trouxe deu 4 times de futebol de botão. Tal qual meu filho com o vídeo game hoje, foi uma paixão imediata. Os times em acrílico tinham os escudos de Brasil, Argentina, Itália e Alemanha. Não haviam números nos jogadores, com a ajuda do meu pai eu enumerei um por um, e com uma Pilot preta passamos um risco embaixo o 8. Pronto! Era a faixa de Capitão do Sócrates.
Com meu futebol de botão, disputei vários mundiais na mesinha de centro da sala. Rummenigge, Zico, Maradona, Passarela, Zoffi. Eu recortava das figurinhas ping-pong as fotos dos craques e colava no Estrelão (era assim que chamava o campo). Juntos, eu e Sócrates vingamos o Brasil várias vezes, hora contra a Itália, hora contra a Argentina éramos uma grande dupla.

Comício da campanha Diretas Já com Sócrates, Osmar Santos
e Fernando Henrique Cardoso
Fui crescendo e entendendo várias coisas. Entendi que o Sócrates era jogador do Corinthians, que o Zico era do Flamengo, o Falcão jogava na Itália. Mas naquela época a seleção estava acima dos clubes. E o Capitão do Brasil mostrava civismo, subia nos palanques das Diretas-Já, ao lado de Lula, Fernando Henrique, Osmar Santos, Chico Buarque e outros. O momento era importante e exigia união. Era muito importante ver o Capitão Canarinho engajado naquele movimento.


Na Copa seguinte Sócrates era jogador do Fiorentina, não era mais o Capitão da Seleção Brasileira. De calção branco, desfigurada a seleção estreou contra a Espanha sem o brilho de antes. Fomos em frente, mas desclassificados contra a França com Sócrates perdendo um pênalti. Fiquei puto de novo, jurei não gostar mais de futebol e injustamente roguei pragas ao meu antigo ídolo.

Cresci, conheci outros esportes, outros ídolos, acompanhei a volta de Sócrates ao Brasil, pelo Flamengo, depois pelo Santos. Troquei os botões de seleções por times nacionais, depois troquei por times europeus como Napoli, Milan ou Paris Saint Germain. Escalava três volantes e não tinha um jogador favorito. Joguei até esquecer os botões e perdê-los definitivamente.


Sócrates com Lula durante campanha para presidente em 1989
Minha mágoa com Sócrates durou muito pouco. Rapidamente passei a admirá-lo, não mais pelo futebolista, mas pelo homem que ele era. Inteligente, culto, diferente da grande maioria. Questionador, nunca ficou em cima do muro, sempre fiel as suas convicções. Poderia falar dele como jogador de futebol, chamá-lo de Doutor, de Rei do Calcanhar, meus amigos corintianos Marcelo Magalhães e Bruno Caccavelli fazem isso melhor que eu. A mim restou falar do homem que como jogador elevou a condição de Capitão da Seleção para Capitão do Brasil.

Internado no Einstein, Socrátes deverá assistir amanhã o jogo da Seleção Brasileira. Seria uma ótima oportunidade de homenagear o grande craque que teve um início tardio no futebol e mesmo assim alcançou chegou a Seleção. Nunca perdeu o jeito simples, de sujeito boa praça e bonachão. Deve ser uma ótima companhia para uma cerveja, para bater papo. Que ele se recupere logo. Que ele receba homenagens em vida. Força Doutor. Força Capitão!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Será que vai vender? Edifício Watteau

Jardins é a forma pela qual comumente nos referimos a região que começa na Avenida Paulista em direção a Marginal Pinheiros e é composta pelos bairros de Jardim América e Jardim Europa. São bairros que nasceram ricos e não passaram por processos de valorização. Morar lá sempre foi sinônimo de sofisticação.
Em 1979 a construtora Gomes de Almeida Fernandes SA e a imobiliária LOPES lançaram na Alameda Itu o Edifício Watteau: Viver em grande Estilo.


Anúncio da Folha de São Paulo 28-10-1979


Gostei deste anúncio primeiro porque ele contrasta com os que eram publicados na época, geralmente cheios de informações. Segundo porque além das empresas serem bem familiares (Gafisa e Lopes) ele convida o possivel interessado para visitar o stand. Uma inovação e tanto para a época.

Ed Watteau pronto, segundo o Google Street View
Pronto a mais de trinta anos, o prédio se destaca pela fachada ainda atual. Seus apartamentos são cotados na faixa de R$ 1 milhão segundo o site 123i.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Avenida Paulista - 120 anos - 6 casarões


Casarão da Baronesa de Arary, na avenida Paulista esquina com a Peixoto Gomide
no local foi construído o edifício de mesmo nome.

Quando surgiu, em 1891 a Avenida Paulista já tinha um fim: ser o endereço paulistano dos grandes produtores de café que vinham do interior para a Capital. 
De modo geral, a Avenida foi ocupada em toda sua extensão por grandes casarões que se tornaram símbolos de uma época, 120 anos depois, apenas 6 destes casarões ainda estão de pé, um deles virá a baixo nos próximos dias.

Ilustração "O Estado de São Paulo" de 20 de outubro de 2011.
Localizado ao lado da Casa das Rosas, a construção Dina Brandi Bianchi deve ser derrubada para dar lugar a mais uma torre comercial, desta vez da construtora Even, a informação é do jornal 'O Estado de São Paulo'.

Empreendimento da Even, que mesmo com frente para a Alameda Santos
ocupará espaço do casarão na Avenida Paulista.
Estou um pouco cansado de falar sobre novas torres comerciais na Paulista ou de tombamento de edifícios históricos. Não que eu acredite que todos os casarões restantes devam ser preservados, nem que não haja espaço para empreender na região, mas fica muito claro que há uma corrida das construtoras para demolir construções que possam vir a ser tombadas pelos órgãos de preservação do patrimônio ou por entidades civis que possam vir a fazer algum tipo de barulho na imprensa. É assim que a Even está fazendo no caso do casarão da Paulista, e foi assim que a Esser fez com o Capital Augusta ao demolir o casarão que ficava no local. 

Casarão na rua Antônia de Queiroz com a Augusta, onde a Esser
lançou o Capital Augusta.
Se falta tato das construtoras em lidar com os casarões, também faz pouco sentido construções desocupadas se deteriorando com o tempo e servindo muitas vezes de submoradia, mas fica muito claro que falta inteligência e sobre ganância, quer seja dos donos das construções, quer seja dos incorporadores.
O bom exemplo, mais uma vez fica a cargo da Brookfield que concebeu um empreendimento, novo, moderno e rentável respeitando a história do anterior, mas disse eu também já falei aqui.




domingo, 13 de novembro de 2011

Paulo Vanzolini - Um homem de moral


A invasão da Reitoria da USP por estudantes da mesma em protesto a presença ou a repressão policial no campus causou grande discussão nas redes sociais, um verdadeiro debate inconcluso sem cabimento e desmedido.  Fiquei com vontade de escrever sobre o assunto, mas não consegui encontrar um lado a quem defender e outro a quem acusar. De tanto pensar acabei sentindo a vontade de falar de alguém que é um símbolo da USP. Representante de um tempo em que ser professor ou aluno da USP eram atestados de capacidade e de excelência. Este post é sobre o biólogo, médico, folclorista, sambista e professor da USP: Paulo Vanzolini



Paulo Emílio Vanzolini é o membro numero 425 da Academia Brasileira de Ciências. É formado em medicina pela USP, Ph.D. em Harvard, tem dezenas de animais catalogados e batizados com seu nome, como a Gymnodactylus_vanzolinii , dezenas de publicações e livros científicos e entre os muitos prêmios que recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico recebida do Presidente da República em 1994. É um currículo invejável. E de tanto viajar pelo Brasil catalogando espécies de répteis, o professor Vanzolini cumpriu outro importante papel, de folclorista. Foi ele quem recolheu por exemplo a belíssima Cuitelinho, gravada por Renato Teixeira, Milton Nascimento, Inezita Barroso entre outros.


Não bastasse ser o grande cientista que é, Paulo Vanzolini é também compositor. E como compositor, ainda que de maneira despretensiosa, nunca quis ser famoso, viver da música,  criou alguns dos versos mais famosos e mais cantados da MPB. 
É quase impossível quem não cantarole pelo menos os primeiros versos de Ronda: "De noite eu ronda a cidade, a te procurar, sem encontrar..." Mas se mesmo assim, você não conheça  o professor, ou o folclorista ou mesmo o sambista, reconheça a queda, e não desanime: Levanta sacode a poeira e dá a volta por cima. 


Trecho do filme, Um Homem de Moral de Ricardo Dias, sobre Paulo Vanzolini.


Paulo Vanzolini é um dos maiores intelectuais do Brasil, segue ativo aos 88 anos, aparece em entrevistas aqui e ali. Já foi tema de livros, teses, filme e enredo de Escola de Samba, mas tantas homenagens ainda parecem pouco perto de toda obra do professor da USP.

sábado, 12 de novembro de 2011

Torre Matarazzo 3 - São Paulo é um cinzeiro?

Tapume da Torre Matarazzo, rua São Carlos do Pinhal
Estive na Avenida Paulista, esquina com a Pamplona para conhecer o painel temático da Torre Matarazzo e me surpreendi. Baseado no que li, escrevi que um painel havia sido pintado.... Agora escrevo baseado no que vi: um painel temático sobre os 120 anos da Avenida Paulista está sendo pintado no tapume do empreendimento da Cyrela.

Foto do Tapume da Torre Matarazzo.
Na verdade não há problema algum no fato de não estar pronto. Aliás é bem bonito o painel e o pessoal da Revolucionarte está caprichando. O problema é que só a Avenida Paulista e a rua Pamplona serão contemplados com a pintura, ficando os 110 metros da rua São Carlos do Pinhal a disposição dos pichadores. Pô Cyrela. Pô Camargo Correa. Ai não né?!

Tapume da rua São Carlos do Pinhal.

Anarquistas Graças a Deus


Quando falamos da importância de documentos históricos para preservar a memória de um povo ou de um lugar em especial estamos citando artefatos que podem conter um relato que pode representar uma época. Eu defendo que além das certidões oficiais, outras formas de comunicação podem ser consideradas como documento histórico. Receitas culinárias, canções, poesias todos podem marcar, ou servir de referência de determinado período.

Os livros cumprem com grande propriedade esta função, e a cidade de São Paulo tem alguns ótimos relatos que ajudam a compor um painel de seu desenvolvimento como metrópole. 

E a São Paulo do primeiro quartil do século XX era uma cidade que cresceu vertiginosamente impulsionada pela chegada de imigrantes vindo principalmente da Itália, instalados inicialmente na região da Mooca; por onde chegavam via Hospedaria do Imigrante; os italianos ocuparam outras regiões imprimindo por aqui novos hábitos, cultura e tecnologias.  Em Anarquistas Graças a Deus, Zélia Gattai relata através de seu olhar de filha caçula a saga da família Gattai durante 30 anos desde que chegaram ao Brasil até quando Zélia veio a casar-se.

Anarquistas Graças a Deus é um dos mais deliciosos livros que já li. Descreve com detalhes a São Paulo do começo do século XX onde cavalos pastavam na Alameda Santos e a avenida Rebouças era uma picada no meio do mato. Conta o cotidiano dos ex-escravos, dos imigrantes árabes e claro, dos italianos. Passa por períodos importantes como a revolução tenentista de 1924 e descreve os passeios de bonde até a Casa Mappim onde se podia deliciar um chá além de fazer compras refinadas.


Em 1984 a Rede Globo transformou o livro em minissérie, onde ressaltou um dos aspectos mais gostosos do livro: o convívio familiar. Recomento muito Anarquistas Graças a Deus para quem quer entender a São Paulo dos primeiros anos do século XX e não quer ler um livro técnico, acadêmico. Impossível não se emocionar.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Novos Rumos


Os últimos dias boas notícias e números superlativos invadiram este blog. Atingimos 4.500 visitas em menos de 5 meses de existência. Contribuímos (que eu saiba) com 3 TCCs, atingimos visitantes assíduos fora do Brasil e aparecemos aqui e ali em blogs, sites e jornais Brasil afora. 
Faço e edito E Agora Adoniran? sozinho, mas falo em terceira pessoa porque no final, o trabalho só é possível graças a audiência dos amigos de sempre e daqueles que chegaram após julho quando lançamos o blog. Assim o blog E Agora Adoniran? é meu e seu, leitor deste texto. 
Procurei sempre um caminho de ineditismo e quando isso não foi possível, as fontes sempre foram corretamente citada como convém em qualquer prática acadêmica. E foi essa linha editorial que nos levou a novos convites e desafios. A partir de agora passo a escrever regularmente no site Marketing Imob, um dos  principais e mais importantes sites sobre mercado e marketing imobiliário.
E Agora Adoniran? segue firme na mesma toada falando de cultura, de urbanismo e principalmente sobre a vasta história da cidade de São Paulo. Mas não dá para recusar uma convocação tão bacana e que tanto me honrou. A partir de agora escreverei regularmente sobre mercado, tecnologias e afins no Marketing Imob. Abaixo, o link da entrevista que motivou a convocação. A todos que passam por aqui, muito obrigado.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Torre Matarazzo 2: A César o que é de César

Tapume do empreendimento comercial da Cyrela e Camargo Correa
Reclamei um monte da Cyrela no post Torre Matarazzo pela forma como ela vinha conduzindo a construção do seu empreendimento comercial na avenida Paulista. Disse entre outras coisas que eles deveriam copiar o projeto Urban Gallery da Brookfield e que deveriam levar em conta o óbvio: o espaço das pessoas.

A Cyrela e a Camargo Correa não só recuaram seu seu tapume em setembro (que cobria o piso tátil) como também criaram um projeto cultural bem interessante. Sob o tema “120 Anos de Avenida Paulista” o tapume foi grafitado com imagens do século XX até os dias de hoje.




Patrocinada pelas construtoras, a ONG Revolucionarte, responsável pela pintura do painel criou uma página no Facebook e vai premiar as fotos mais curtidas postadas na fan page.


Foto retirada da Fan Page Arte Paulista


A ação é bem válida, preserva (um pouco né) a história do local e de certa forma apaga a impressão ruim deixada pela obra em um primeiro momento além de melhorar a vida de quem vai ter que conviver com o tapume até 2015. Mesmo assim, devido ao grande impacto no trânsito da região, essa torre bem que se encaixava no eixo Berrini-Faria Lima né Cyrela?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

E agora Adoniran? Bom Dia Brasil








A Rede Globo não permite mais que seu vídeos sejam postados no YouTube, mas segue aqui matéria da Neide Duarte que de certa forma, ratifica tudo aquilo que venho falando no blog.
O link abaixo leva a matéria da Rede Globo, vale muito a pena: 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Cidade e Seus Documentos: Vila Nhocuné

Detalhe do Folheto VILLA PENHA COLON
Voltando a falar do folheto Villa Penha Colon, é impossível para mim, que estudei história, que me interesso pela urbanização de São Paulo e que trabalho com mercado imobiliário não considerar este um material riquíssimo e de grande valor para entender uma área tão pouco considerada da cidade: a periferia.
Analisando as ruas descritas no cartaz, a estação que serviria o bairro não é possível dizer o local exato da Villa Penha Colon. A própria organização da exposição, por falta de maiores informações simplifica  o local como sendo um loteamento na região da Penha.

Etiqueta de identificação na exposição A cidade e seus documentos.
Ao invés de facilitar, a etiqueta aumenta a dificuldade de encontrar o local quando diz: Freguesia da Penha. Nossa colonização portuguesa nos fez batizar de Freguesia toda uma região, assim quando em 1895 se dizia em Penha, estava-se dizendo de toda a área que hoje chamamos de zona leste de São Paulo. Mas duas dicas ajudam a conjecturar sobre o local e sobre o que resultou este empreendimento: A estrada de ferro Central do Brasil e as Avenidas Principais: Christalino da Silve e Liberato Azevedo.

detalhe do folheto Villa Colon Penha
Em 1872, o Coronel Christalino Luiz da Silva Liberato Augusto de Azevedo e sua esposa Maria Calceira de Azevedo eram proprietários de um sítio de 5 mil metros quadrados a leste da Freguesia da Penha. Coronel Christalino era conhecido por seus escravos como Senhor Coronel, Sinho Coroné até que a corruptela Nho Cone acabou fazendo o sítio chamava Tapera da Finada Ignes ficar conhecido como sítio de Nhocuné. 
Nhocuné, ops, Christalino teve suas terras cortava em 1880 pela estrada de ferro Central do Brasil que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, o que representava um progresso significativo. Vendeu boa parte de sua gleba a Carlos Ferreira de Carvalho. Na área adquira por Carvalho ficava uma parada do trem, denominada 11 parada. E não é que Carlos Ferreira de Carvalho e sua esposa Isabel, devota da Santa homônima também seriam Avenidas da Villa Colon?

detalhe do folheto Villa Colon Penha
Com o crescimento da cidade (São Paulo passara de uma vila de 30 mil habitantes em 1870 para 240 mil em 1900) era natural que os grandes proprietários de glebas e fazendas empreendessem loteamentos imobiliários. 
Alguns fatos e desdobramentos me fazem crer que o Loteamento Villa Colon Penha não foi lá um grande sucesso. Nenhuma das ruas do projeto existe hoje na cidade, nem mesmo a estação Villa Colon. A primeira estação ferroviária localizada em terras que foram de Christalino Luiz da Silva foi inaugurada no anos 1920 e levou o nome do engenheiro responsável: Artur Alvim.

detalhe do folheto Villa Colon Penha
Loteamentos não vingaram em São Paulo do início do século XX por falta de legislação como já dito aqui no texto sobre o Pacaembú, é possível imaginar que na virado do século XIX a dificuldade era muito maior.
Só após a criação de leis sobre loteamentos, foi  que a partir dos anos 1930 que Antonio Estevão de Carvalho (este sim virou no de rua, terminal urbano e até de bairro) descendente do Senador Carlos Ferreira de Carvalho,  empreendeu loteamentos na região.
Por tudo isso é possível dizer que o terreno, que um dia fora destinado ao empreendimento Villa Colon seja o que hoje estão os bairros de Vila Nhocuné, Artur Alvim, Cidade Patriarca , Cidade A.E. Carvalho e Vila Ré. 
Foi aliás a Vila Ré, o cenário mais distante do Centro que inspirou Adoniran Barbosa, patrono deste blog a escrever um samba, onde a proximidade da linha férrea teria criado um imbróglio em um casamento realizado na região.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Cidade e Seus Documentos


Estive ontem no Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo no Bom Retiro motivado para conhecer a peça acima. Ela é parte da exposição "A Cidade e Seus Documentos" do órgão municipal. Com réplicas e alguns originais  devidamente protegidos e aclimatados, a exposição é gratuita e vai até dezembro. Interessante entrar em contato com documentos, testemunhas de diferentes épocas da capital paulista. O link com endereços e horários está aqui:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/arquivo_historico/

O cartaz original é datado de 1895, mede 34 x 65cm e refere-se a um loteamento na região da Penha, na zona leste da capital. Não sou especialista em marketing imobiliário, mas já é possível identificar aqui algumas características que perduram nas peças imobiliárias de hoje: Valorização:  "A Fortuna para todos compradores" "esplendidos terrenos"; Localização: "A fucturosa Villa Penha Colon caracteriza por si e sua especial situação topographica o que há de mais apto para um facil e benefico desenvolvimento"; Infraestrutura: "fica a primeira Estação da linha da E.F.Central do Brazil".


Analisando o projeto, idealizado pela empreza de colonização e immigração Vinas, Torres e Favre é possível dizer que tinha como foco os recém chegados imigrantes europeus oriundos da Itália e da Espanha, isto porque o loteamento fora divido em quadrantes e dois deles chamariam Largo de Hespanha e Largo de Italia, além disso, as ruas levariam nomes de regiões como Barcelona e Madrid ou de heróis italianos como Garibaldi ou Vitório Emanuelle. 

E foram os nomes das ruas principais, Liberato Azevedo e Christalino da Silva que deram a dica de onde ficava o loteamento. É o assunto do próximo post.


sábado, 15 de outubro de 2011

O Correio Eletrônico.

Em 1990 uma Reportagem da Record em fala de uma grande novidade: o Correio Eletrônico. Contava naquele momento com 260 usuários. Qual será a novidade daqui a 20 anos?

Haddad x Chalita (Nhô Ruim x Nhô Pior)


Hoje é dia do Professor e daqui a um ano teremos eleições municipais. Em São Paulo o que se desenha é uma disputa entre Fernando Haddad, ministro da educação e Gabriel Chalita que foi secretário de educação do Estado de São Paulo, ou um terceiro cenário com um sendo vice do outro.

De um lado um sujeito que representa o governo federal, que foi protagonista das trapalhadas cometidas durante o Enem (corrupção, roubo de provas, venda de provas) de formação marxista (cof, cof) é muito, muito ligado a Lula.

Gabriel Chalita é hoje do PMDB, ligado a igreja católica e foi durante muito tempo secretário de Educação de São Paulo. Representa o sucateamento da educação estadual e a maldição da progressão continuada.

A educação no Brasil é tão ou mais ridícula e vexatória que a saúde. Não entendo o que faz alguém pensar que algum desses dois senhores possa ser um bom prefeito. Juntos ou separados eles representam a burocracia, o pragmatismo e o nivelamento por baixo da educação brasileira.

Penso na campanha, nas plataformas de cada um, nas bandeiras de educação que serão levantadas e me enojo. Feliz 2016 eleitor paulistano.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Eu gosto MUITO de São Paulo!


Eu tinha 15 anos de idade em 1990 quando meu pai me presenteou com um ingresso para o show "As Quatro Estações" do Legião Urbana (em São Paulo ninguém fala A Legião). Foi incrível ver ao vivo aquela banda que tocava toda a minha geração. 
Todos no estádio cantavam todas as músicas e quando em "Meninos e Meninas" Renato Russo enfatizava "EU GOSTO MUITO DE SÃO PAULO!" a multidão entrava em catarse absoluta.
Hoje faz 15 anos que Renato Russo morreu, não lamento, nunca penso "ah se ele estivesse aqui". Mas presto minha homenagem aquele que foi o maior poeta da minha geração. E tenho o maior Orgulho de ser da Geração que ouvia música em fita k-7, que aprendia a dirigir em fuscas e brasílias e aprendia três acordes no violão só para fazer bem a namorada. 
Obrigado por tudo Renato Russo!





domingo, 2 de outubro de 2011

Center Norte vai explodir?

Imagem da construção do Shopping Center Norte
E grande discussão da semana na cidade foi o risco de explosão do Complexo que abriga o Shopping Center Norte. Me assustei muito com a notícia. Quer dizer que sempre corremos risco? 
Foram inúmeras as vezes que estive ali. O Center Norte na realidade foi o primeiro shopping que eu e muitos da minha geração estivemos. O primeiro cinema, o primeiro Big Mac, o primeiro tênis de marca foram comprados ali. No Expo Center Norte fui em algumas feiras e no Carrefour o primeiro hipermercado que estive. E quer dizer que em algumas destas visitar tudo poderia ter ido pelos ares? 

Anúncio da inauguração do Center Norte
no Estado de SP em 1984
O tom fatalista que os jornais e principalmente os tele-jornais utilizam para passar a notícia de contaminação do solo é vergonhoso. Não acredito de maneira alguma na hipótese da explosão. Mas a forma como prefeitura e órgãos de fiscalização conduziram o caso beira o ridículo. Porque:
- o local era uma cava de garimpo do século XIX até meados dos anos 1930 quando da retificação do rio Tietê.
- Desde então os moradores de Vila Maria passaram a depositar lixo na cava.
- Nos anos 1970, a cava foi aterrada com restos das perfurações do Metrô e da construção do Terminal Rodoviário do Tietê.
- Entre 1979 e 1984 é construído o Shopping Center Norte.
- Em 2004, uma CPI da Câmara dos Vereadores descobre que o Shopping foi construído em um antigo lixão, a Cetesb é acionada e em 2010 ela exige providências para que o gás seja drenado.

Posso crer que nos 6 anos em que a Cetesb investigou não havia risco de explosão? Que neste meio tempo as lojas, os cinemas, os terminais de ônibus, o conjunto habitacional não foram para os céus por sorte?

Todo o alarmismo da notícia não fez bem a ninguém, nem a Cetesb, nem a Prefeitura nem ao Shopping. Mas os que mais sentirão os efeitos disso tudo são os funcionários que trabalham por lá que acusam o golpe. O movimento caiu mais de 40% às vésperas das festas de final de ano. 

Estado de SP - 1985
Pesquisando o tema e para a minha surpresa não é a primeira vez que isto acontece. Em 1985, um ano depois de inaugurar o complexo comercial, o então prefeito Mario Covas ameaçou derrubar o mesmo por conta de denuncias de corrupção. Sem uma política ambiental definida, os donos do shopping teriam pago propina para funcionários da prefeitura para aprovar a construção, o que teria despertado a ira de Mario Covas.


Sem Tombamento - Com Tombamento (atualizado)

Frente do Cine Belas Artes, fechado em março de 2011.
A notícia é fresquinha saiu hoje a tarde no ESTADÃO. O Condephaat decidiu autorizar o processo de tombamento do prédio do Cine Belas Artes. Enquanto o processo não chegar ao fim, o proprietário não poderá dar outro fim ao imóvel. 

E os órgãos que cuidam do patrimônio histórico de São Paulo decidiram pelo não tombamento do prédio que abrigava o Cine Belas Artes porque "não há fundamento constitucional para promover o tombamento do "lugar" dissociado da qualidade arquitetônica do edifício".  
OK. Prédios históricos temos aos montes na cidade. Ma o cinema de rua, opção ao circuito comercial; opção aos modernos e pasteurizados cines de shopping com seus caríssimos combos de pipocas com refrigerante; esse morre e não vai sobrando quase nenhum. 
O prédio do Belas Artes, ao lado do metrô Paulista, na Consolação vai virar loja segundo seu dono Flavio Maluf (que não é filho do deputado). Não tenho ideia do que vão vender por lá. Mas eu não compro nem sequer um saquinho de pipocas deles.


Procuradoria diz não a tombamento do Belas Artes (matéria do Estado de São Paulo)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Será que vai vender (12) - Cia City

Nem só de loteamentos e terrenos viveu a Cia City. Ao longo do período de vendas dos loteamentos, algumas casas eram construídas e vendidas posteriormente. A casa da rua Itápolis, 61 deve ter sido um dos primeiros "modelos decorados" que se viram por aqui. 

Jornal "LEVY" 5 de junho de 1931
No anúncio de O Estado de São Paulo de junho de 1931, um convite para o Último Dia - Será encerrada hoje a exposição do lindo e confortável palacete recém construído por esta Companhia. 

Estado de São Paulo, 1931

Nenhuma das casas dos anúncios existem hoje da maneira como foram concebidas. Mas é muito interessante perceber os cuidados dos projetos. O anúncio de abril de 1934 no Diário Popular apresenta uma OPTIMA CASA POR POUCO PREÇO. 







domingo, 25 de setembro de 2011

Cia City: Investimento Seguro


Os anúncios da Cia. City ofereciam mais que terrenos e melhorias inéditas para os moradores. As peças publicitárias propunham-se a educar e a conscientizar o futuro comprador da necessidade de investimento em imóveis.
Verdadeiro retrato de uma época, os anúncios da City podem ser considerados documentos históricos, quer seja pelo estilo gráfico das ilustrações, pela escolha e grafia das palavras ou pelos valores da sociedade que podem ser lidos nas entrelinhas dos textos. Neste primeiro apanhado, o tema é  INVESTIMENTO SEGURO.



Pacaembu: A Nova Maravilha Urbana

Anúncio do loteamento Pacaembu, sem data 
No início do século XX, São Paulo contava com os imponentes casarões dos Campos Elísios, onde ficavam a sede do Governo, em Higienópolis e a avenida Paulista era quase que exclusividade dos Barões do Café. Havia na cidade uma escassez na oferta de casas para morar, bem como na pavimentação de ruas, iluminação, água, esgotos e transportes. 
No apogeu do ciclo cafeeiro e com o inicio da industrialização, essa carência afetava tanto a população operária (vide Vilas Operárias neste mesmo blog) quanto a burguesia emergente. Esse cenário conferia à iniciativa privada um papel quase que de substituta do poder público na organização da ocupação urbana, uma vez que São Paulo não tinha um plano diretor para norteá-la. É neste nicho mal explorado, ou sequer explorado que a Cia City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited cresceu e prosperou na cidade comprando terrenos enormes e acidentados e criando neles empreendimentos de sucesso.

Foto do Pacaembu, meados dos anos 1930
Um dos primeiros empreendimentos da City foi o Pacaembu. O hoje consagrado e famoso bairro fora um imenso terreno alagado (dai o nome atoleiro em tupi-guarani) no passado. Comprado e terraplanado pela City o Pacaembu logo passou a ser noticiado como o futuro “bairro mais belo e aristocrático de São Paulo, orgulho da capital paulista” (jornal “A Capital”, de 25 de março de 1913). O alvoroço foi causado pelos planos da Cia City de criar ali um bairro com todas as características inovadoras do conceito urbanístico da cidade-jardim, incorporando ainda melhorias básicas como eletricidade e rede de água e esgoto.


O ambicioso projeto foi embargado pela Prefeitura que ainda não tinha legislação para julgá-lo. Retomado em 1925 pode ser retomado sob várias determinações que foram designadas pela própria empresa: as residências do loteamento do Pacaembu não deveriam ultrapassar os dez metros de altura e nem ocupar mais de um terço do terreno.  As ruas sinuosas acompanhavam a topografia e a forte presença de vegetação reforçava o conceito de City-Garden implementado.

Anúncio de 1928, do jornal Fanfula, publicado em italiano
Nos dez anos seguintes ao seu lançamento, a City faz intenso uso de anúncios nos jornais paulistanos para divulgar e instruir sobre seus empreendimentos. Estes anúncios muitas vezes eram direcionados a colônias de imigrantes, daí tantos em alemão, italiano e japonês.  Outra característica era citar bem feitorias ou atentar para símbolos de prosperidade como AUTOMÓVEIS que poderiam ser vistos circulando pelo bairro.
O Estado de São Paulo, 1937

O sucesso do empreendimento inspirou outros que viriam a seguir, mas fez o Pacaembu um lugar único na cidade. Seu traçado, seu paisagismo e solo permeável foram considerados patrimônio público e tombados pelo Condephatt em 1991

Mapa da Prefeitura sobre o Tombamento do Bairro.
Lei agregou também o bairro de Perdizes.
Hoje o Pacaembu é um dos bairros mais valorizados da capital paulista, com baixa densidade populacional é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor A". Seus moradores são atentos e lutam contra a poluição visual, verticalização e foi isso inclusive que não permitiu que o Pacaembu, estádio municipal fosse sequer citado para a Copa do Mundo que deve ser realizada em 2014 no Brasil.

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