sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Cidade e Seus Documentos: Vila Nhocuné

Detalhe do Folheto VILLA PENHA COLON
Voltando a falar do folheto Villa Penha Colon, é impossível para mim, que estudei história, que me interesso pela urbanização de São Paulo e que trabalho com mercado imobiliário não considerar este um material riquíssimo e de grande valor para entender uma área tão pouco considerada da cidade: a periferia.
Analisando as ruas descritas no cartaz, a estação que serviria o bairro não é possível dizer o local exato da Villa Penha Colon. A própria organização da exposição, por falta de maiores informações simplifica  o local como sendo um loteamento na região da Penha.

Etiqueta de identificação na exposição A cidade e seus documentos.
Ao invés de facilitar, a etiqueta aumenta a dificuldade de encontrar o local quando diz: Freguesia da Penha. Nossa colonização portuguesa nos fez batizar de Freguesia toda uma região, assim quando em 1895 se dizia em Penha, estava-se dizendo de toda a área que hoje chamamos de zona leste de São Paulo. Mas duas dicas ajudam a conjecturar sobre o local e sobre o que resultou este empreendimento: A estrada de ferro Central do Brasil e as Avenidas Principais: Christalino da Silve e Liberato Azevedo.

detalhe do folheto Villa Colon Penha
Em 1872, o Coronel Christalino Luiz da Silva Liberato Augusto de Azevedo e sua esposa Maria Calceira de Azevedo eram proprietários de um sítio de 5 mil metros quadrados a leste da Freguesia da Penha. Coronel Christalino era conhecido por seus escravos como Senhor Coronel, Sinho Coroné até que a corruptela Nho Cone acabou fazendo o sítio chamava Tapera da Finada Ignes ficar conhecido como sítio de Nhocuné. 
Nhocuné, ops, Christalino teve suas terras cortava em 1880 pela estrada de ferro Central do Brasil que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, o que representava um progresso significativo. Vendeu boa parte de sua gleba a Carlos Ferreira de Carvalho. Na área adquira por Carvalho ficava uma parada do trem, denominada 11 parada. E não é que Carlos Ferreira de Carvalho e sua esposa Isabel, devota da Santa homônima também seriam Avenidas da Villa Colon?

detalhe do folheto Villa Colon Penha
Com o crescimento da cidade (São Paulo passara de uma vila de 30 mil habitantes em 1870 para 240 mil em 1900) era natural que os grandes proprietários de glebas e fazendas empreendessem loteamentos imobiliários. 
Alguns fatos e desdobramentos me fazem crer que o Loteamento Villa Colon Penha não foi lá um grande sucesso. Nenhuma das ruas do projeto existe hoje na cidade, nem mesmo a estação Villa Colon. A primeira estação ferroviária localizada em terras que foram de Christalino Luiz da Silva foi inaugurada no anos 1920 e levou o nome do engenheiro responsável: Artur Alvim.

detalhe do folheto Villa Colon Penha
Loteamentos não vingaram em São Paulo do início do século XX por falta de legislação como já dito aqui no texto sobre o Pacaembú, é possível imaginar que na virado do século XIX a dificuldade era muito maior.
Só após a criação de leis sobre loteamentos, foi  que a partir dos anos 1930 que Antonio Estevão de Carvalho (este sim virou no de rua, terminal urbano e até de bairro) descendente do Senador Carlos Ferreira de Carvalho,  empreendeu loteamentos na região.
Por tudo isso é possível dizer que o terreno, que um dia fora destinado ao empreendimento Villa Colon seja o que hoje estão os bairros de Vila Nhocuné, Artur Alvim, Cidade Patriarca , Cidade A.E. Carvalho e Vila Ré. 
Foi aliás a Vila Ré, o cenário mais distante do Centro que inspirou Adoniran Barbosa, patrono deste blog a escrever um samba, onde a proximidade da linha férrea teria criado um imbróglio em um casamento realizado na região.


2 comentários:

  1. Prezado Denis Willian Levati...
    De fato, você tem razão quando localiza a pretendida Villa Colon junto a antiga Estação Ferroviária Artur Alvim.
    O Diário Oficial do Estado de São Paulo de 29 de agosto de 1899, página 2061, confirma-o; porém, há equivoco quanto a ser Christalino Luiz da Silva o coronel denominador do Sítio Nhocuné, em cujas terras, mais tarde, surgiria a Vila Nhocuné.
    Recentemente, lancei um livro (Vila Nhocuné - Memórias da Tapera da Finada Ignêz & Outras Memorias), que exigiu cerca de 10 anos de pesquisas e, dentre os documentos que tive acesso, nenhum deles dá indicação de que Christalino Luiz da Silva seja o denominador do Sitio ou da Vila.
    Publicação feita no Diário do Estado de São Paulo de 23 de setembro de 1927, página 7064; explicita que: "aos 18 de abril de 1871, Miguel Jacob... vendeu a Christalino Luiz da Silva e Liberato Augusto de Azevedo as terras que lhe haviam tocado na divisão amigável com Francisco Rodrigues de Assis e sua mulher,..... situadas no logar denominado "Nhocuné" e "Tapera da Finada Ignêz", na freguezia da Penha..."
    Tal publicação, deixa claro que, quando Christalino Luiz da Silva adquiriu as referidas terras em 1871, as mesmas já eram denominadas "Sítio Nhocuné"; portanto, Christalino não é o denominador de tal paragem.
    Você e outros blogueiros vêm repetindo um erro que resulta de um equivoco realizado por mim em 1995, quando, a partir de uma pesquisa, publiquei artigo no Jornal Ponto de Vista, no qual dizia que Christalino Luiz da Silva "possivelmente fosse o Coronel" que tenha dado origem ao nome do lugar. A referida pesquisa era parcial. Anos depois, aprofundando-a, deparei-me com a informação definitiva: apesar de ter sido proprietário de terras na região, Christalino não é o denominador do Sítio Nhocuné.
    Afim de que a verdade história prevaleça, seria conveniente realizarmos correções na informação contida em vosso blog. O livro: Vila Nhocuné - Memórias da Tapera da Finada Ignêz & Outras Memórias, encontra-se disponivel nas bancas de jornais de Artur Alvim, Vila Nhocuné e Jardim Hercília. Nele, os leitores encontrarão outras fontes, confirmando o que afirmo aqui.
    Outra correção: Uma das Avenidas que se pretendia no projeto de loteamento da Villa Colon seria denominada "Senador Carlos Teixeira de Carvalho, e não Carlos Ferreira de Carvalho como aparece no seu texto.
    No mais, seu trabalho de pesquisa merece todo apoio e congratulações. Seu Blog é bonito, útil e muito bem feito.
    Receba meu fraterno abraço.

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  2. Quem loteou a Vila Nhocune em 1960 foi Albino de Abreu Figueiredo. Fomos a terceira família e chegar em 1960.

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