Anúncio do loteamento Pacaembu, sem data |
No início do século XX, São Paulo contava com os imponentes casarões dos
Campos Elísios, onde ficavam a sede do Governo, em Higienópolis e a avenida Paulista era quase que exclusividade dos Barões do Café. Havia na cidade uma escassez na oferta de casas para morar, bem como na pavimentação de
ruas, iluminação, água, esgotos e transportes.
No apogeu do ciclo cafeeiro e com o inicio da industrialização, essa carência afetava
tanto a população operária (vide Vilas Operárias neste mesmo blog) quanto a burguesia emergente. Esse cenário
conferia à iniciativa privada um papel quase que de substituta do poder
público na organização da ocupação urbana, uma vez que São Paulo não
tinha um plano diretor para norteá-la. É neste nicho mal explorado, ou sequer explorado que a Cia City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited cresceu e prosperou na cidade comprando terrenos enormes e acidentados e criando neles empreendimentos de sucesso.
Foto do Pacaembu, meados dos anos 1930 |
Um dos primeiros empreendimentos da City foi o Pacaembu. O hoje consagrado e famoso bairro fora um imenso terreno alagado (dai o nome atoleiro em tupi-guarani) no passado. Comprado e terraplanado pela City o Pacaembu logo passou a ser noticiado como o futuro “bairro mais belo e aristocrático de São Paulo, orgulho da capital paulista” (jornal “A Capital”, de 25 de março de 1913). O alvoroço foi causado pelos planos da Cia City de criar ali um bairro com todas as características inovadoras do conceito urbanístico da cidade-jardim, incorporando ainda melhorias básicas como eletricidade e rede de água e esgoto.
O ambicioso projeto foi embargado pela Prefeitura que ainda não tinha legislação para julgá-lo. Retomado em 1925 pode ser retomado sob várias determinações que foram designadas pela própria empresa: as residências do loteamento do Pacaembu não deveriam ultrapassar os dez metros de altura e nem ocupar mais de um terço do terreno. As ruas sinuosas acompanhavam a topografia e a forte presença de vegetação reforçava o conceito de City-Garden implementado.
Anúncio de 1928, do jornal Fanfula, publicado em italiano |
Nos dez anos seguintes ao seu lançamento, a City faz intenso uso de anúncios nos jornais paulistanos para divulgar e instruir sobre seus empreendimentos. Estes anúncios muitas vezes eram direcionados a colônias de imigrantes, daí tantos em alemão, italiano e japonês. Outra característica era citar bem feitorias ou atentar para símbolos de prosperidade como AUTOMÓVEIS que poderiam ser vistos circulando pelo bairro.
O Estado de São Paulo, 1937 |
O sucesso do empreendimento inspirou outros que viriam a seguir, mas fez o Pacaembu um lugar único na cidade. Seu traçado, seu paisagismo e solo permeável foram considerados patrimônio público e tombados pelo Condephatt em 1991.
Mapa da Prefeitura sobre o Tombamento do Bairro. Lei agregou também o bairro de Perdizes. |
Hoje o Pacaembu é um dos bairros mais valorizados da capital paulista, com baixa densidade populacional é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor A". Seus moradores são atentos e lutam contra a poluição visual, verticalização e foi isso inclusive que não permitiu que o Pacaembu, estádio municipal fosse sequer citado para a Copa do Mundo que deve ser realizada em 2014 no Brasil.
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