Quando se fala em edifício ou conjunto imobiliário tombado, normalmente o que se tem em mente são prédios em ruínas, que só estão ali porque um dia alguém decidiu que eles deveriam ser preservados. Com o passar do tempo nada é feito e aquela construção torna-se refém do decreto que serviria para lhe dar nova vida.
Não precisa ser assim. Existe ótimo exemplos de como o patrimônio pode ser preservado e ainda assim abrigar uma estrutura moderna. Vide exemplos como a Estação da Luz e o Residencial Casa das Caldeiras já mencionados neste blog.
Habitações operárias da Vila Nitro Química em São Miguel Pta |
As Vilas Operárias
As vilas operárias são resquícios de um tempo em que a cidade de São Paulo era um pólo fabril onde as empresas se arrastavam pelo eixo ferroviário da Barra Funda até o Belém. As periferias eram bairros ermos e sem infraestrutura e o deslocamento difícil.
Para diminuir o desconforto ou manter seus colaboradores por perto, as grandes indústrias, muitas vezes, instalavam vilas operárias próximas ao seu entorno e proviam seus funcionários de comércio, escola, igreja, creche, lazer além de claro moradia.
A maioria delas não existe mais. Os órgão de defesa do patrimônio decidiu que pelo menos três delas deveriam ser tombadas. Começo por aquele que é o melhor exemplo de preservação:
A Vila dos Ingleses
Vila dos Ingleses em foto recente |
Ruas limpas, pintura impecável, nada de lixo da rua. Encravada na soturna rua Mauá, próximo a passarela da Rua São Caetano depois da avenida Prestes Maia tinha tudo para ser um local em ruínas ou esquecido. Tombada pelo Condephatt em 1980, seu terreno pertenceu à marquesa de Itu, e o construtor era seu genro. A vila foi inaugurada em 1917, com o nome de Casas Jardim Marquesa de Itu, com a intenção de alugar para os engenheiros que vinham da Inglaterra para trabalhar na empresa São Paulo Railway, concessionária inglesa que construiu e operou até 1947 a ferrovia Santos-Jundiaí.
Localização da Vila dos Ingleses. |
A arquitetura foi inspirada nas vilas operárias londrinas, com lavanderia e cocheiras entre as casas para garantir a ambientação dos inquilinos passou então a ser chamada de Vila dos Ingleses. Com o fim da São Paulo Railway e o declínio da região os 28 sobrados de 200m² viraram cortiços com o passar dos anos. Após o tombamento, o bisneto do construtor, o advogado Pierre Moreau assumiu o conjunto e trocou todos os locatários. Em vez de famílias, o advogado decidiu implantar um centro comercial. Passou a alugar os imóveis a preços simbólicos, com a condição de que os novos inquilinos reformassem as casas sem transfigurá-las.
Fachada das casas que servem como escritórios |
O resultado é uma ilha de tranquilidade e preservação em um dos bairros mais degradados da cidade. Escritórios que apostaram na Vila dos Ingleses como endereço deverão ser beneficiados pelo projeto Nova Luz que redesenhará a região deverá valorizar a construção. A Vila dos Ingleses é um ótimo exemplo de como os conjuntos tombados pelo Patrimônio Histórico podem ser preservados e mesmo sem incentivo governamental podem imprimir nas cidades um elo de ligação entre o passado e o presente.
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