sábado, 17 de setembro de 2011

Vilas Operárias - A Vila dos Ingleses

Quando se fala em edifício ou conjunto imobiliário tombado, normalmente o que se tem em mente são prédios em ruínas, que só estão ali porque um dia alguém decidiu que eles deveriam ser preservados. Com o passar do tempo nada é feito e aquela construção torna-se refém do decreto que serviria para lhe dar nova vida.
Não precisa ser assim. Existe ótimo exemplos de como o patrimônio pode ser preservado e ainda assim abrigar uma estrutura moderna. Vide exemplos como a Estação da Luz e o Residencial Casa das Caldeiras já mencionados neste blog. 
Habitações operárias da Vila Nitro Química em São Miguel Pta

As Vilas Operárias
As vilas operárias são resquícios de um tempo em que a cidade de São Paulo era um pólo fabril onde as empresas se arrastavam pelo eixo ferroviário da Barra Funda até o Belém. As periferias eram bairros ermos e sem infraestrutura e o deslocamento difícil.
Para diminuir o desconforto ou manter seus colaboradores por perto, as grandes indústrias, muitas vezes, instalavam vilas operárias próximas ao seu entorno e proviam seus funcionários de comércio, escola, igreja, creche, lazer além de claro moradia.
A maioria delas não existe mais. Os órgão de defesa do patrimônio decidiu que pelo menos três delas deveriam ser tombadas. Começo por aquele que é o melhor exemplo de preservação:

A Vila dos Ingleses

Vila dos Ingleses em foto recente
Ruas limpas, pintura impecável, nada de lixo da rua. Encravada na soturna rua Mauá, próximo a passarela da Rua São Caetano depois da avenida Prestes Maia tinha tudo para ser um local em ruínas ou esquecido. Tombada pelo Condephatt em 1980, seu terreno pertenceu à marquesa de Itu, e o construtor era seu genro. A vila foi inaugurada em 1917, com o nome de Casas Jardim Marquesa de Itu, com a intenção de alugar para os engenheiros que vinham da Inglaterra para trabalhar na empresa São Paulo Railway, concessionária inglesa que construiu e operou até 1947 a ferrovia Santos-Jundiaí. 

Localização da Vila dos Ingleses.
A arquitetura foi inspirada nas vilas operárias londrinas, com lavanderia e cocheiras entre as casas para garantir a ambientação dos inquilinos passou então a ser chamada de Vila dos Ingleses. Com o fim da São Paulo Railway e o declínio da região os 28 sobrados de 200m² viraram cortiços com o passar dos anos. Após o tombamento, o bisneto do construtor, o advogado Pierre Moreau assumiu o conjunto e trocou todos os locatários. Em vez de famílias, o advogado decidiu implantar um centro comercial. Passou a alugar os imóveis a preços simbólicos, com a condição de que os novos inquilinos reformassem as casas sem transfigurá-las.

Fachada das casas que servem como escritórios
O resultado é uma ilha de tranquilidade e preservação em um dos bairros mais degradados da cidade. Escritórios que apostaram na Vila dos Ingleses como endereço deverão ser beneficiados pelo projeto Nova Luz que redesenhará a região deverá valorizar a construção. A Vila dos Ingleses é um ótimo exemplo de como os conjuntos tombados pelo Patrimônio Histórico podem ser preservados e mesmo sem incentivo governamental podem imprimir nas cidades um elo de ligação entre o passado e o presente.

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